domingo, 26 de dezembro de 2010

A Pianista e o Colar - Capítulo XI

Todos sabem que contos de fadas não acontecem de verdade. Pois é, eu não sabia.
Continuamos levando a vida como sempre, e agora eu o considerava uma espécie de namorado.
Certo dia ele me perguntou que pulseira era aquela que eu nunca retirava do meu pulso esquerdo.
- Presente de papai. Não tenho coragem de tirar. Uso sempre.
Ele continuou a observar a pulseira. Era uma corrente prata com um pingente contendo a letra "A" em brilhantes.
- Gostaria de encomendar uma parecida pra você. Me emprestaria essa para eu pegar o molde?
Achei o pedido estranho mas não teria coragem de negá-lo, então lhe entreguei a pulseira.
Ele me devolveu no outro dia a tarde. A noite, enquanto jantávamos, disse que tinha uma notícia.
- Tenho pistas do paradeiro do diamante.
Pistas? Já? Eu ainda nem tinha descoberto nada sobre ele.
- Qual pista?
- Tenho indícios de que esteja próximo a Madri. Partimos para a Espanha amanhã.
Então deixaríamos Paris? Já? Triste isso. Mas a Espanha também é muito legal. Já estava ansiosa para conhecer lá. Quando se tem 15 anos qualquer viagem é legal.
Quando chegamos no hotel subi correndo e fui fazer minhas malas. Quando levantei meu travesseiro, vi as cartas que tinha pegado no quarto dele. Sentei-me na cama com elas nas mãos. Dessa vez, não poderia me conter: abri e comecei a ler.
Eu precisava saber quem realmente era Piérre. E parece que finalmente comecei a descobrir.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A Pianista e o Colar - Capítulo X

Ele agia sempre tão impecavelmente bem que todas as minhas suspeitas de que havia algo errado nessa história se esvaíam com o tempo.
Eu o admirava cada vez mais. Pela elegância, pelas conversas sempre tão agradáveis, por sua beleza...
Com o tempo, sem querer, fui me afeiçoando a ele. E fazia mil e uma coisas para impressioná-lo. Comecei a me produzir sempre. Estava sempre bem penteada, bem vestida e perfumada. Passei a estudar diariamente francês e buscava aperfeiçoar minha fala. Queria me igualar a ele para que não ficasse para trás. Além disso passei a treinar uma música no piano clandestinamente, todos os dias enquanto ele saía.
Passaram-se três meses, e então certa noite eu me vesti com um vestido branco longo que ainda não tinha usado. Fiz um penteado bonito e coloquei luvas de cetim. Eu estaria parecendo uma noiva no Brasil, mas na França eu era apenas uma dama muito chique. O batom vermelho quebrava todo o tom claro de minha roupa, mas casava-se perfeitamente bem com todo o modelito.
Bati a porta de seu quarto. Ele atendeu. Disse que tinha uma surpresa e pedi que ele fechasse os olhos.
Sentei-me diante do piano e comecei a tocar a música. A música que a meses vinha ensaiando. A música cuja cifra encontrei em seus pertences. E toquei-a com toda minha alma. Todo meu corpo e coração. Com a maior intensidade que cabia em meus dedos. Toquei, até com os olhos fechados, sem saber aonde eu queria chegar com tudo isso.
Tamanha foi minha surpresa e alegria ao sentir repentinamente seus lábios macios encontrarem os meus...
Minhas mãos se levantaram do piano e abraçaram seu pescoço. Eu me levantei, e ele abraçou minha cintura, enquanto ainda nos beijávamos.
Naquele instante não havia pensamento algum se passando por minha mente. Não haviam preocupações. Não haviam problemas. Não havia nada, nada além daquilo que estava acontecendo.
Um calor forte se concentrava ao redor de meu coração. Chama forte a arder em meio peito. Aquele momento era de tal intensidade para mim que não sei descrever. Eu tinha 15 anos. E aquele beijo em Pierre talvez fosse o momento que me proporcionasse a melhor sensação que eu poderia ter sentido nos últimos meses.
Quando o beijo terminou ficamos abraçados. Não sei por quanto tempo. Nossos olhares estavam fixo um no outro, e nenhum dos dois se atreveria a desviar.
Sorri. Expontaneamente. Com vontade. Um belo sorriso sincero. Que ele retribuiu.
- Vou pegar minha bolsa.
E saí pesarosamente de seu abraço. Ao cruzar a porta, saí saltitante a correr até meu quarto, sem sentir desconforto algum em correr de salto, como se o chão fosse repleto de plumas sob meus pés.
Estava sim absolutamente feliz.

A Pianista e o Colar - Capítulo IX

Ele abriu a porta e entrou.
Torci fervorosamente para que ele não sentisse o aroma de traição que pairava sobre o ar. Era assim que eu me sentia. Como se eu estivesse lhe traindo a confiança. Nem sequer me lembrava de que eu deveria agir sem remórcio, como uma refém vingativa naquele momento.
Deu uma volta pelo quarto e pegou a chave do carro. Em seguida saiu.
Aguardei pelo menos uns dez minutos antes de sair do meu seguro esconderijo. Não poderia me arriscar desta forma.
Quando saí, voltei ao piano. Meus dedos receosos tocaram cuidadosamente as teclas. E se fez música.
A melodia que tocava me fazia viajar. Me levava para longe... Tão distante... Distante de quaisquer problemas que tivessem habitado minha mente nos últimos dias. Eu me senti completamente leve. Queria que aquele momento durasse para sempre.
Toquei por uns minutos, mas então subitamente lembrei-me da real razão para eu estar ali, naquele quarto, naquele momento, e que eu não deveria demorar pois estava ali clandestinamente.
Revirei as coisas dele, as gavetas do armário, sempre em busca de uma pista, algo que me desse uma explicação para tudo isso.
Encontrei umas cartas, um mapa e uma caixinha. Coloquei tudo dentro da bolsa. Deveriam servir para alguma coisa.
Consegui chegar sã e salva em meu quarto. Me senti aliviada por isso.
Após me certificar de que a porta estava trancada e de que eu me encontrava em absoluta privacidade, comecei a investigar as coisas.
As cartas eram variadas. Algumas pareciam ser mais formais. Outras eram até perfumadas e enfeitadas com pequenos laços de fita. Mas não eram de um só remetente, claro.
De qualquer forma, inicialmente não tive coragem de ler nenhuma delas.
Quanto ao mapa, dei uma espiada. Era um mapa-mundi antigo, meio precário, com algumas rotas confusas traçadas entre os continentes. Um trajeto que para mim parecia estranho e sem nexo. Para mim.
Abri a caixinha, e descobri que era uma linda e rara caixinha de música. Ao invés da tradicional bailarina, havia na caixinha uma pianista, tocando um piano de diamante. Aquilo me fascinou e me intrigou, pois ao mesmo tempo em que eu me maravilhava com a rara caixinha de música rara, talvez a única daquele jeito no mundo, me intrigava a aparente obsessão dele por diamantes e pelo piano. Mas, por enquanto, eu preferia acreditar que tudo isso era inofensivo.
Fui me arrumar para descer pro jantar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Pianista e O Colar - Capítulo VIII

Amanheci em outro hotel.
Esse deveria ter um céu completo de estrelas. Meu quarto tinha decoração dourada, parecia um castelo ou algo assim.
Pela primeira vez desde minha chegada à França, pensei em meus tios que me receberiam na Arábia. Imaginei o motivo do atraso deles até o aeroporto. Imaginei o que eles devem ter pensado ao não me encontrar. E o que minhas tias do Brasil devem ter feito ao descobrir que eu não cheguei até a casa da irmã delas na Arábia. Isso é, se elas souberem é claro.
Mas havia um motivo maior para me fazer sentir mal: é que eu estava bem.
Eu quase nunca tive contato com minha tia que mora na Arábia, e não sei se estaria pronta para uma troca de cultura tão radical. De certa forma, me sinto sozinha no mundo, e ter encontrado Pierre não era assim tão ruim, pois ele me dava tudo que eu queria e não fazia nada ruim comigo. E agora eu estava em Paris, o que mais poderia querer da vida?
Apesar dos pesares, eu estava bem. Não completamente - sentia saudades dos meus pais - pois sempre me sentia muito solitária. E de certa forma era mesmo. Era eu por mim e eu por mim, neste vasto mundo, onde nem as fronteiras entre os países me surpreendiam mais.
Mas... Essa história dos diamantes havia me assustado um pouco. Na verdade havia me assustado muito. Havia algo nessa história que eu não havia descoberto. Algo que eu temia, é claro, justamente por não fazer a mínima ideia do que seja. Mas definitivamente era algo que eu precisava descobrir.
Decidi que entraria no quarto dele, escondida, para tentar encontrar alguma pista. Em um de nossos habituais cafés-da-manhã, consegui terminar o meu antes do dele, e disse que ia subir para dormir mais um pouco.
A moça da recepção estava no telefone, num papo muito animado, e de costas para a porta. Aposto que ela nem percebeu quando eu peguei la clè reserva no compartimento inferior do balcão.
Consegui entrar no quarto dele. Mal podia conter minha alegria pelo sucesso da operação secreta, e eu me julgava muito esperta. Pobre adolescente ingênua eu era.
Entrei e me surpreendi pela organização do quarto - por mais que eu e a camareira tentássemos, haviam sempre pelo menos umas sete coisas fora do lugar - dele. Havia uma prateleira de livros, muitos deles clássicos, e haviam muitos também que envolviam a palavra diamante. Mas o que mais me maravilhou foi o lindo piano branco que estava de frente a la fenètre. Era uma vista privilegiada a daquela janela. Dava para ver charmosas lojas na calçada mais fina do mundo, afinal estávamos em Paris.
Retirei a seda vermelha que cobria as teclas. Quando meus dedos cogitaram a hipótese de tocá-las, ouvi passos no corredor. Corri e me escondi. A adrenalina estava de volta em minhas veias, e não parecia que iria embora tão cedo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Pianista e O Colar - Capítulo VII

Parecia que estávamos em um navio.
Se sentisse por um segundo um tremor sob meus pés, acreditaria que era apenas o balanço das ondas.
A decoração era toda típica de um navio, e é claro que tudo era muito chique. O típico charme francês estava em todos os cantos. As paredes de madeira clara faziam um harmônico contraste com o assoalho escuro. As cadeiras eram de madeira escura estofadas de vermelho. As cores básicas mescladas eram o marrom, o dourado e o vermelho. Lindo.
Seguimos reto, até uma sacada onde havia uma mesa virada para a vista da rua. Ele puxou a cadeira para mim. Pediu alguma coisa e então começamos finalmente a ter uma conversa muito necessária.
- Você deve estar se perguntando o por que de tudo isso... - começou ele.
- É o que me pergunto a todo instante.
Ele desviou os olhos dos meus por um momento. Havíamos chegado num ponto onde ele não poderia mais fazer rodeios: ele teria de dizer a verdade. Esclarecer tudo.
Pareceu perplexo antes de falar.
- É uma história bastante complicada. Você não entenderia.
Não entenderia o motivo do meu sequestro? Esse cara é louco.
- Não se trata de compreensão. Se trata de você me falar o por que de eu ter sido arrastada da Arábia até a França por um desconhecido, estar sendo tratada feito uma rainha, e apesar de ter sido aparentemente sequestrada, o criminoso é um jovem milionário que não aparenta ter a mínima intenção de pedir um resgate por mim.
Os olhos dele agora encontraram os meus. Ele me lançou um olhar penetrante, petrificante, e eu não consegui me mover um milímetro sequer. Cada célula externa do meu corpo estava absolutamente sem qualquer movimento. O silêncio era, outra vez, quebrado somente por meu coração.
Eu não conseguia imaginar o que ele estava pensando. Cada expressão de sua face era completamente indecifrável.
- Você se lembra de algo que eu já te falei em conversas anteriores?
Pensei um pouco. Recordei nossa conversa no carro, após meu sequestro. Nosso diálogo daquele dia era agora apenas um ilegível borrão em minha memória.
- Lembro de você dizer algo sobre "procurar um colar"... - disse sem muita convicção. Eu não me lembrava ao certo se isso acontecera ou se era projeção falsa da minha memória.
- Sim. O colar é parte do motivo de você estar aqui.
Ele pensou se deveria continuar. Em seguida, resolver arriscar e continuou.
- Já ouviu falar no Mogul?
- Hum... Acho que não.
- É um dos diamantes mais famosos do mundo. Foi o maior de toda a Índia, até desaparecer. Encontrado em 1650 na Índia, pertenceu ao imperador, tendo ficado nas mãos da família real do império até meados do século XVIII, quando começou a ser procurado por um famoso caça-diamantes. Quando ele chegou a Índia, o diamante havia sido levado por Emir Jemla, que tinha agora sua posse. Com medo de perder sua preciosidade, fugiu para Nova Déli, em seguida desapareceu do mapa com o diamante, e não há relatos concretos sobre o paradeiro da jóia até hoje, apenas rumores.
Escutei tudo em silêncio. Era uma história bastante interessante, mas procurar um diamante cujo paradeiro é mistério há três séculos parecia ser algo meio irracional.
- E onde é que eu entro nessa história?
O habitual sorriso antes da resposta.
- Infelizmente, não posso te dizer agora. Vai acabar com a graça do mistério.
Disse isso, e em seguida chegou nosso jantar. Uma batida sem álcool para mim e champangne para ele.
- Um brinde - propôs.
- A que? - indaguei não muito simpática.
- A Paris.
Brindamos e nenhum de nós dois disse mais nada.
Eu me sentia presa em um labirinto: havia a certeza de uma saída, mas não fazia a mínima ideia de onde ela estava. Havia um mistério e muitas dúvidas, e ele apenas complicava tudo com as poucas respostas. Havia uma única pessoa para me auxiliar na resolução do problema: Pierre. Mas, que fazer se ele mesmo era o meu maior enigma?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Pianista e O Colar - Capítulo VI

Ao cair da noite, comecei a sentir realmente o frio europeu.
Havia um detalhe no quarto que eu não disse: um espelho comprido na parte interna da porta do guarda-roupa.
Após vestir o vestido, o sobretudo, calçar o scarpin, arrumar meu cabelo (encontrei um babilize na mala! Fiz chapa e cachinhos nas pontas) e fazer a maquiagem, olhei-me no espelho comprido. Não era eu. Não poderia ser. Parecia uma mulher de uns dezenove ou vinte anos.
Minha sombra rosa clara cintilava por cima de meus olhos castanhos. O rímel, delineador e lápis pretos completavam a maquiagem dos olhos impecavelmente bem. Outro tom de rosa, tonalizado para o marrom foi o que eu usei na boca.
Ah, também encontrei uma bolsa carteira (na verdade são umas cinco, uma de cada cor) preta na mala. Coloquei nela meu querido antigo celular e meus dez dólares.
Saí. Tranquei a porta e desci as escadas. Foi quando o vi, de costas, usando um impecável smoking preto. Ele escutou meus passos e se virou para me olhar, com o habitual sorriso nos lábios.
- Vamos nos divertir muito essa noite. - ele disse, puxando a minha mão e lhe dando um beijo.
Eu deveria estar assustada, morrendo de medo, estava toda produzida para sair a noite em Paris com um cara que há três dias antes eu nunca havia imaginado que existisse nesse mundo, e ele me sequestrou no aeroporto e agora ficava me dando tudo o que uma garota de quinze anos cobiça ter no guarda-roupa e ainda sorri o tempo todo como se estivéssemos vivendo a situação mais natural do planeta. Eu deveria estar muito assustada, mas meu coração estava relativamente calmo. As batidas não eram regulares e comuns quanto o andar dos ponteiros do relógio, mas não eram velozes feito pedras que correm avassaladoras por uma montanha íngreme. Meu coração apenas estava curioso, ansioso para descobrir "aonde vamos e o que faremos essa noite", apenas isso.
Um Peugeot modelo 407 Prologue buzinou na porta do hotel. Ele me deu o braço, como um bom cavalheiro.
Entramos no carro. Era lindo. Expontaneamente, fiz uma pergunta indiscreta.
- Você é rico?
Ele deu uma risada graciosa antes de responder.
- Em que sentido?
Argh. Eu não queria dar papo pra ele. Queria demonstrar fúria e indignação, por ele ter me sequestrado, me trazido para a França e agora achar que tem minha tutela. Mas ele era agradável e eu não conseguia demonstrar raiva com tanta frequência.
- Financeiro.
Outra risada.
- Talvez possamos afirmar que eu tenha uma quantia razoável.
Razoável? Sei. Ele deveria ter ganhado na loteria. Não tinha nada a perder, então tinha que descobrir de onde ele tirava tanto dinheiro.
- Você ganhou na loteria, assaltou um banco, desviou verba de uma multinacional, encontrou um cartão de crédito sem limite na rua, herdou tudo de um bisavô milionário ou o quê?
- Você é bem curiosa para ter quinze anos. A fase do pergunta-pergunta geralmente só dura dos três ao cinco.
- E você adora desviar das respostas das perguntas que eu faço.
Um sorriso.
- Vou te contar a história completa. Mas a última opção é a mais provável. Você tem uma imaginação boa e é bem espertinha.
Fiz uma expressão que quase foi um sorriso, e em seguida virei-me para a janela. Estávamos sentados no banco de trás, e havia um motorista que estava dirigindo. A noite em Paris era mais linda que o dia.
Passaram-se uns trinta e cinco minutos, até que chegamos a um restaurante MUITO, muito chique. A placa dizia "Gérard Joulie". Não acredito nisso. Um restaurante cinco estrelas. Em Paris. Me belisquei para conferir: não era um sonho.
- Tem vários ambientes e é lindo. Você gosta de frutos do mar?
- S-s-s-sim... - estava embasbacada demais para dizer algo.
- Ótimo. Fiz reservas para nós dois em todos os ambientes, um em cada dia da semana. Hoje vamos em um que se chama "Le Bar de la Mer".
"O Bar do Oceano", traduzimos juntos. Aquele um ano de cursinho de francês realmente está sendo de boa utilidade. É claro que eu conheço o mínimo do básico do vocabulário francês, mas assim ele percebia que eu era esperta e que eu entendia quando ele falava em francês com as pessoas, e não ficava sem saber o que estava acontecendo.
Haviam dois seguranças na porta. Um deles segurava uma lista, com os nomes das pessoas das reservas.
- Pierre Vicent et Alícia.
O segurança conferiu os nomes, deu-nos uma comanda e nós entramos no lugar que deveria ser o mais elegante que eu iria em toda a minha vida. Ao caminhar, meu salto fazia "poc poc" pelo chão. A imagem do meu lindo scarpin de bico redondo rosa veio a minha mente, sem que eu olhasse para meus pés. Ele me deu o braço novamente. Desta vez, sorri.

A Pianista e O Colar - Capítulo V

Paris definitivamente era linda.
Após a minha frustrante primeira tentativa de fuga, pegamos um táxi e descemos na rua Le Colisée, que fica a uns quinze minutos da Charleton-le-Pont. Meu medo cedeu um pouco, e tudo que meus olhos agora faziam, era percorrer cada milímetro daquela arquitetura urbana impecável, e gravar ao máximo cada belo minucioso detalhe em minha mente.
Entramos num hotel bem bonito, não era refinadíssimo mas era mais chique que os três estrelas habituais no Brasil. A fachada era pintada de branco, sendo alguns detalhes suavemente contornados por um bege-dourado.
- Deux chambres. - Disse ele a recepcionista, entregando o que deveria ser uma espécie de cupom de reserva.
Quando ela lhe entregou as chaves dos quartos, e ele me entregou uma, meu queixo quase de deslocou e caiu ao chão, tamanha foi minha surpresa e meu susto.
- V-v-você vai me entregar a chave? - Falei, gaguejando.
- Sim, e você não vai tentar escapar outra vez. - Ele afirmou convicto.
Subimos, ele foi olhar o quarto dele que ficava no final do corredor esquerdo no segundo andar, sentido contrário ao meu, que ficava no fim do corredor direito.
Abri a porta e entrei no que por agora era meu quarto.
Uma cama, uma televisão com video game, uma escrivaninha com um bloquinho de anotações, uma caneta e um telefone, um tapete, uma poltrona, algumas almofadas e um banheiro. Era legal.
Dei uma volta pelo quarto, e me lembrei de que eu não tinha nada. Simplesmente não sei onde foi parar minha mala. Só estava com meu celular e dez dólares no bolso. E eu precisava de um banho.
Foi então que eu me lembrei que há três dias eu estava transitando de um lado para o outro de carro, avião e táxi, parando em alguns lugares para comer e descansar, mas não havia passado nenhuma das noites em hotéis e eu não havia consequentemente tomado banho. Eca. Eu deveria estar fedendo. Culpa dele.
Abri o guarda-roupa e para minha felicidade havia um lindo estoque de toalhas brancas, sabonetinhos de hotel, escovinhas de dente, creme dental, e até um pacotinho de absorventes. Fiquei encantada.
Peguei um sabonete, uma toalha, uma escovinha e o creme dental e fui tomar banho.
Era o melhor banho da minha vida, eu acho. A sensação da água morna em minha pele. Fazia um pouco de frio, mas isso não me importava. O perfume do sabonete e a água escorrendo pelo meu corpo era tudo o que eu queria sentir, e eram tudo o que eu queria pensar naquele momento. O melhor momento de meus últimos dias.
Encontrei um vidro de xampu e outro de condicionador no banheiro e fiquei feliz já que eu realmente precisava lavar meu cabelo.
Demorei uns vinte e cinco minutos no banho. Resolvi demorar já que haviam três dias que eu não tomava um. Eca de novo.
Quando saí do banheiro, vi que a porta estava entreaberta e fui até lá trancá-la. Quando me virei para o quarto novamente, havia uma mala rosa enorme ao lado do guarda-roupa, com uma etiqueta grafada "Alícia". E havia um vestido preto em cima da cama, com um par de scarpin rosa de bico redondo ao lado. Um sobretudo preto aveludado, do mesmo comprimento do vestido. Meia fina preta fio 40. E um bilhete em cima do vestido:
"Isto é para hoje a noite. Esteja linda, mais linda que o habitual. E aproveite sua mala."
Ele havia entrado e deixado as coisas aqui. Abri a mala. Muitas roupas chiques, muitos vestidos, calças, casacos, sapatos, maquiagem, secador, chapinha, acessórios, enfim, tudo o que se possa imaginar. Fiquei felicíssima é claro.
Depois fui analisar a roupa que iria vestir.
Mas, depois de curtir minhas novas coisinhas, fui pensar: "Onde ele quer chegar com tudo isso? E por que ele me escolheu?".
Não conseguia entender nada. E parece que não havia nada para entender. Nada além de tudo.

domingo, 7 de novembro de 2010

A Pianista e o Colar - Capítulo IV

Três dias após a noite do sequestro, surgiu a oportunidade perfeita. Havíamos acabado de desembarcar de avião na França (Descobri que ele estava dirigindo até o aeroporto aquele dia. Só não me pergunte onde ele arranjou aquele carro porque eu não faço a mínima ideia.) Ele me deixou segurando uma mala preta enquanto disse que ia ao banheiro. A mala estava trancada com cadeado. Eu queria abri-la, mas não havia como. Mas eu tinha a minha primeira perfeita oportunidade de fuga, e não a perderia sem tentar.
Olhei para os lados. Nem sinal dele. Meus lábios se converteram num sorriso travesso, como que uma criança que ansia ficar sozinha para pegar outro pirulito no pote da cozinha.
Então, num impulso insano, saí correndo em disparada, desejando ter a liberdade outra vez em minhas mãos. Mas, o que eu estava pensando? Não tinha nem quinze anos, e estava sem nada, a não ser pela mala trancada em minhas mãos que eu furtara dele. Sorri outra vez ao pensar que o deixei sem a mala.
Segui por um corredor comprido, que tinha uma grande placa escrito "arrived",
"chegada". Virei a esquerda e segui por outro, dobrei a esquerda novamente e então a direita, e finalmente vi uma fila de carros pratas com plaquetinhas em cima que deveriam ser os táxis. Parei diante de um. finalmente, pensei no que estava fazendo.
Se eu entrasse em um táxi agora, e sumisse das vistas de meu misterioso sequestrador, o que seria da minha vida? Eu não queria avaliar as minhas possibilidades, já que não eram as melhores que já tive, garanto. Mas era necessário. Meus olhos se encheram de lágrimas, que não desapareciam e nem escorriam por meu rosto. Meu destino era algo absolutamente incerto. O destino sempre é algo incerto, mas na situação em que eu me encontrava, isso parecia assustador.
Minhas pernas se dobraram, involuntariamente, e eu me sentei no chão frio do aeroporto. Desejei estar em casa. Desejei estar no Brasil de novo. Desejei ter meus pais vivos e uma lar. E meus intensos desejos faziam a dor daquele momento aumentar.
Senti uma mão em meu ombro. Era ele. Havia me encontrado. Não estava mais sozinha.
- Não precisa tentar fugir. Mesmo porque você não conseguiria.
Senti uma frustração por saber que, no fundo, as palavras dele eram verdadeiras. Mas, apesar de tudo, um certo alívio acompanhou a frustração. Eu estava "salva". Pelo menos naquele momento.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Pianista e o Colar - Capítulo III

Já era noite quando eu acordei.
O carro se mexia rápido. Haviam poucas estrelas no céu. Percebi que estava deitada no banco de trás. Ele dirigia. Não percebeu que eu havia aberto os olhos. Eu estava acordada. Isso era perigoso.
É incrível como nossa vida pode mudar tanto em tão pouco tempo. Há vinte e quatro horas atrás eu estava feliz e contente no Brasil, despedindo dos meus amigos, me acostumando com a ideia de ser deportada para a Arábia. E em um dia, um único dia, eu pego um avião sozinha, sou abandonada num aeroporto árabe e fico por lá até ser sequestrada por um estranho jovem e bonito que fala francês e português. Jóia.
O clima agora estava bem mais fresco, levemente frio. Minha pele agradecia a brisa suave e gélida que entrava pela janela. Parecia estar traumatizada com o calor insuportável durante o dia.
Me mexi um pouco, cuidando para que ele não percebesse que eu estava acordada. Peguei meu celular no bolso. Enviei um torpedo para a Tati, rezando para que embora eu estivesse fora do país a mensagem chegasse. Escrevi apenas um S.O.S. e enviei. Tornei a esconder o telefone no bolso. Então ele percebeu minha movimentação sutil e começou a conversar.
- Boa noite.
Por favor, isso não está acontecendo comigo. Me acorde, me jogue um balde de água fria, me diga que está tudo bem e que foi só um sonho ruim, que eu não estou sendo levada por um cara que eu não conheço e que eu não estou perdida em outro país que não o Brasil. Era tudo o que eu conseguia pensar.
- Onde está me levando? - eu não estava muito contente.
- Calma, calma, calma linda moça. Acho que você merece uma explicação plausível para o que está acontecendo.
Sim, mereço. E Tudo o que eu quero é te estrangular, panaca, mas é óbvio que eu não diria algo assim. Permaneci calada. Ele tornou a falar.
- Meu nome é Pièrre. Pièrre Vicent. Nasci na França, me mudei para o Brasil aos oito anos, perdi bastante meu sutaque ao decorrer dos anos. Adoro mistérios, e tudo o que você precisa saber agora é que você vai me ajudar.
Ah, legal cara, entendi tudo. Agora eu sei tudo sobre a sua vida, e o fato de que eu vá te ajudar a fazer sei-lá-o-quê me tranquilizou muito. Vai na fé.
Meus pensamentos sarcásticos estavam azedando mais meu humor. Ele ainda estava afim de falar.
- Talvez Pièrre seja meio diferente para você, então pode me chamar de Pedro, era assim que eu era conhecido no Brasil.
- Com o que eu vou te ajudar?
Ele pareceu refletir.
- Com o mistério.
- Que mistério?
- Esse é o mistério. - ele sorriu.
Minha boca se curvou numa expressão raivosa, e ele ficou sem graça.
- Brincadeirinha. Tem toda uma história. Estou procurando um colar.
Eu parei. Me sentei. Olhei nos olhos dele pelo retrovisor. Fiz uma expressão embasbacada. Então eu fui sequestrada para ajudar o cara a encontrar um colar? Isso está parecendo pegadinha. Ou filme. Ou os dois. Tanto faz.
- Deve ser muito bonitinho para valer tanto esforço... - disse sarcástica.
Então a atitude dele me surpreendeu. Ele fechou a cara, como se eu tivesse lhe deixado zangado ou muito aborrecido. A forma como ele me respondeu foi, de certa forma, sombria.
- Mais que sua cabecinha de adolescente pode imaginar.
Foi aí que eu percebi que não era só um colar. Tinha uma história. Tinha um mistério. Talvez ele me contasse. Eu estava curiosa. Mas ele parecia enfezado, e eu não queria desmanchar a minha máscara perfeita de "eu sou antipática, não quero estar aqui e te odeio" fazendo perguntas e parecendo interessada. Não mesmo.
Me deitei novamente, fechei os olhos e adormeci.

sábado, 16 de outubro de 2010

A Pianista e o Colar - Capítulo II

Aquele clima era insuportável.
O calor que atingia meu rosto parecia queimar, e o suor escorria pelas minhas costas. Não era atoa que eu não queria vir para este lugar.
Vou me apresentar. Alícia. Alícia Grings. Ou Alícia G. Pode escolher, não me importo. Meus pais faleceram num acidente há dois verões passados. Até então eu estive morando com uma tia. Até que ela teve a brilhante ideia de me deportar para Arábia Saudita, onde a irmã dela mora.
A vida é assim: se você é menor de idade e fica órfã, passa a ser um estorvo para as tias e nunca tem um endereço fixo. Fato.
Quando eu tinha uns cinco anos e ficava lendo "Aladim e a Lâmpada Maravilhosa" a Arábia me parecia um lugar muito mais interessante. Mas agora, ao vivo, a experiência é meio diferente.
Eu acabara de chegar do Brasil, e as pessoas me olhavam curiosas. Devem achar que eu sou uma espécie de pervertida por causa das minhas roupas. Ou então uma louca. Ou deduzem que sou estrangeira pela minha bagagem. Eu sei lá o que se passa da mente deles. Só sei que não param de me olhar e isso está me irritando.
Tia Jasmine ainda não veio me buscar. A espera está me deixando mais nervosa. Hoje eu estou vulnerável a irritabilidade.
"Sente-se e acalme-se Alícia" eu conversava comigo mesma. Já deveria ter aparecido alguém.
Um cara se aproxima e se senta ao meu lado. Ele é muito jovem para ser esposo de tia Jasmine e também não acredito que seja meu primo de 15 anos. Definitivamente ele não é meu parente e eu não o conheço.
"Não converse com estranhos", eu murmurava. Eu tinha apenas 14 anos. Eu estava ali, no aeroporto de Dubai, sozinha. E agora um estranho se sentou ao meu lado. Meu maior receio era de que ele puxasse conversa. E ele puxou.
- Comment passè vouz, belle femme?
Ah, muito bom. Eu estou perdida num aeroporto árabe e um cara vem falar francês comigo. Jóia.
Tentei recordar algo do que aprendi em dez meses de cursinho.
- Tré Bien garçon. Et vouz?
- Tré Bien.
- Est-vous françoise?
Ele ri.
- Non. Je suis brésilienne.
Não contenho um sorriso.
- Je ne parle pas français tré bien, nous pouvons parler le portugais?
Ele ri outraz vez. Não posso negar, o sorriso dele é lindo. Ele deve ter uns dezoito anos.
- Então somos brasileiros falando francês na Arábia?
- Parece que sim. - ele é simpático mas eu não devia estar conversando com ele. Eu não o conheço.
Um silêncio paira entre nós uns momentos. Até que ele começa a falar outra vez.
- Que fazes aqui bela moça?
Argh. Por que ele precisa me chamar de bela moça? Em francês e agora em português? Não queria corar perto de um estranho. Não mesmo.
- Estou aguardando minha família.
Ele faz cara de pensativo.
- Seus pais? - ele questiona.
- É. - eu minto.
Deveria mentir melhor.
- Estão um pouco atrasados, não é verdade?
Uma grande necessidade de prosseguir minha mentira habita em mim, e aprimoro minha técnica. A memória de meus pais surge em minha mente. Eu sei que poderia até chorar nesse momento. Mas eu preferi me conter. Eu era minimamente espertinha. Não podia deixar que ele soubesse que eu estava só e abandonada num aeroporto árabe!
- Talvez. Mas meu pai me telefonou. Disse que vai demorar um pouco. Congestionamento no trânsito. Sabe como é né...
Ele começou a duvidar.
- Ah... sei sim. Toma um café comigo?
A lanchonete era do outro lado do aeroporto, mas eu conseguia ver um pedaço da placa de onde estava sentada. Meu estômago idiota me entregou com um ronco.
Só um café... Isso não mata ninguém, não é? Ou mata. Mas eu ainda era ingênua.
Comemos um pouco e conversamos. Ele parecia ser um cara legal. E a companhia dele era agradável.
Depois caminhei com ele até a entrada do aeroporto. Tinha um carro lá parado. Ele colocou a bagagem dele lá dentro. "Legal, agora eu realmente estou sozinha e abandonada", pensei.
- Então tchau... - disse olhando nos olhos dele. Lindos olhos.
Ele se aproximou de mim, se aproximou muito e disse em meu ouvido:
- Você vai comigo.
Foi quando senti uma enorme pancada em minha cabeça, e não vi mais nada por algumas horas. E tudo estava apenas começando...

domingo, 10 de outubro de 2010

Saudade...

Saudade...
Jamais consiguirei defini-la
com exata precisão
Não há como explicar
esse tal sentimento
que aperta meu coração.

Saudade...
Que causa dor em meu peito
Que ocupa meu pensameto dum jeito
Difícil de se falar

Só nele fico a pensar
Só dele fico a falar
Só a voz dele desejo escutar

Saudade...
Só sua presença vai me acalmar...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Pianista e o Colar - Capítulo I

Era apenas outra noite com plateia e música.
As luzes do teatro foram acesas antes do horário comum. Até o momento, nada me parecia sombrio. Até o momento.
Subi ao palco, e todos os olhares do público se voltaram para mim. Curvei-me em um agradecimento, virei-me e sentei frente ao piano. A ansiedade da plateia pairava sobre o ar, e este tipo de energia estava começando a me atingir, de forma que eu estava inquieta. E uma pianista inquieta é algo não muito aconselhável. A atenção deve ser integralmente voltada para o piano. E apenas para ele.
Posicionei os dedos sobre as teclas e comecei a apresentação. Estive tão aérea pelo dia! Nem planejei bem o espetáculo. Eu estava quase que improvisando. Improviso ou não, as pessoas pareceram não notar, o que me deixou esplendorosamente contente.
Quarenta e cinco minutos se passaram e eu teclei a última nota. Aguardei os aplausos, agradeci e desci do palco. Hora de ir embora.
Enquanto cruzava o teatro para chegar à saída, vi meu reflexo no vidro da janela e parei uns instantes. Fitei o colar em meu pescoço. Um sorriso tenebroso abriu-se em meus lábios. Ignorei a perversidade do momento e saí, como se nada tivesse acontecido.
Tentei estar à parte do aglomerado de pessoas, mas foi impossível. Eram muitas pessoas e eu estava esperando um táxi. Não seria tão fácil conseguir ficar sozinha naquele momento.
Foi quando eu o vi, de longe, procurando-me, e na mesma hora ele me viu. Todos os instintos do meu corpo me induziam a uma fuga rápida e feroz, onde o objetivo era salvar minha própria vida. Respondi aos alertas de meu cérebro tarde demais.
Ele já havia me localizado, e vinha em minha direção. Percorri a rua para cima, correndo com a maior velocidade que meus pés e meu salto alto permitiam. Um maldito buraco apareceu em minha frente e quebrou meu salto. Caí bruscamente no chão.
Então ele me alcançou. Ofereceu-me a mão, e me carregou até uma distância longínqua da multidão, num gesto como que de cavalheirismo. Meu coração era um misto de desejo e terror. Culpei-me por ainda ousar permitir que meu coração acelerasse por aquele crápula.
Ele me colocou sentada num banco. Abraçou minha cintura pelas minhas costas. Beijou sedutoramente meu pescoço, me surpreendendo um pouco. Até que ele arrancou bruscamente o colar, no mesmo instante em que senti uma arma em minha cabeça.
— Belíssimo reencontro, não concorda querida?
— Acabe logo com isso.
— São suas últimas palavras?
Assenti com a cabeça, levemente, temendo a arma. Logo o disparo viria e eu seria apenas um corpo no meio da escuridão. Rezei para que minha alma — se eu ainda tivesse uma — fosse para um lugar melhor e tivesse uma outra vida mais digna. Fechei os olhos.

sábado, 18 de setembro de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo XVIII - FINAL!

Os sentimentos nunca acabam. Apenas se transformam.
Por quase quatro meses que me pareceram séculos, eu estive presa ao mesmo sentimento. Durantes semanas ele me pareceu a única solução para o que eu sentia. Ele foi minha inspiração, minha motivação. Ele foi meu entusiasmo e minha alegria diversas vezes. Mas as coisas mudam.
O garoto pelo qual eu me apaixonei já não é o mesmo. As coisas mudaram muito do início até o momento. Acho que seja natural o fato de eu me culpar por isso. Talvez seja natural que eu me arrependa de algumas coisas. De que eu me sinta completamente nostálgica ao me recordar de outras. E de que eu chore por um momento.
Mas como eu disse, eu me apaixonei por alguém, e o alguém que eu me apaixonei não é o mesmo de agora. Segundo Heráclito, tudo flui, nada pára, e que ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio: quando voltar lá estarão outras águas, e o próprio ser já se modificou.
Assim como ninguém entra duas vezes no mesmo rio, ninguém age duas vezes da mesma forma, ninguém conquista uma pessoa de duas maneiras diferentes, ninguém é o mesmo sempre.
E conosco não foi diferente.
Aquela magia do início foi se apagando. Apagou-se aos poucos, assim como uma das milhares de estrelas a brilhar no céu. Elas brilham, elas encantam, mas todas têm sua duração definida. Um dia elas vão deixar de ter luz própria, um dia elas vão se apagar e ser apenas mais um corpo celestial invisível a ocupar um espaço no vácuo da imensidão do mundo.
Por mais que ele tentasse ele nunca mais foi o mesmo depois que soube a maneira a qual eu gostava dele. Ele tentava agir naturalmente, ele tentou manter tudo normalmente, mas eu podia ler em seus olhos que ele não se sentia tão a vontade quanto antes.
Talvez no início, ele tenha continuado o mesmo, mas aos poucos ele foi se transformando.
Eu percebia quando nas conversas ou nas ações dele, ele buscava não me desapontar, ao mesmo tempo em que buscava não alimentar nenhuma esperança.
Correr tanto atrás dele também foi um erro. Por mais que parecesse inevitável, eu deveria ter me controlado um pouco mais.
E sobretudo, talvez meu maior erro seja ter sido tão transparente. Ter descrito tão bem tudo o que eu sentia. Embora tudo isso tenha ocorrido naturalmente como já disse.
Não por um único motivo específico, mas simplesmente por meu coração se recusar a sustentar esse sentimento, eu resolvi bani-lo de mim.
Aquela sensação de segurança já não existe mais, e a minha maior necessidade nesse momento é lembrar de que minha vida gira apenas em torno de mim e não dele, lembrar-me disso sempre e não esquecer nunca, para não repetir o mesmo erro.
O amor é um sentimento que não acaba nunca, mas pode ser transformado. Se antes de tudo isso fomos tão amigos, por que isso não pode ser resgatado? Pode ser que eu só precise de um tempo sozinha, eu tempo afastada para que eu não pense mais nele como jamais deveria ter pensado.
Existem outras alegrias além dele. Existe minha própria vida para eu viver.
E eu não preciso consumir minhas energias pensando em alguém que não retribui meu amor.
Espero que ele ainda seja meu amigo, pois nunca deixei de vê-lo assim. E quanto ao fato de eu estar apaixonada, isso não vai continuar, porque não posso mais sustentar isso.
Vou pensar mais em amigos que em amores.
Vou cantar uma música até ficar rouca.
Vou beber milk-shake até vomitar.
Vou dar "tchau" pela janela do carro para as pessoas da rua.
Vou ser muito feliz.
Se não foi com ele, paciência. As coisas não acontecem da forma que a gente planeja. Mas acontecem, então basta esperar a vida acontecer naturalmente.
Espero ter uma noite de sono completa hoje, estou precisando.
Meus pensamentos e minhas decisões têm se alternado muito, mas tenho a certeza de que isso não vai mudar.
Infelizmente ele não foi meu grande amor...
Mas levarei sempre comigo a lembrança de um amigo perfeito, que me confortou tantas vezes, que me fez crescer e me fez tão feliz de várias formas. Que fez eu me enxergar como uma mulher, e que esteve presente em tantas coisas importantes.
Onde quer que eu vá, vou tentar me lembrar apenas disso.
E não há mais o que dizer...



FIM

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo XVII

O tempo está muito seco e quase não venta.
Sem sentir brisa alguma em meu rosto, caminho sem saber para onde ir, caminho sem saber a direção a tomar, já que nem o vento me direciona rumo a um destino certo.
Meu temperamento continua oscilando bastante entre felicidade e tristeza.
Tenho ficado muito ansiosa nos últimos dias. Com o fim do ano se aproximando, viagem, e etc. Há séculos não tenho uma boa noite de sono! E cada dia é por um motivo diferente, apesar de um dos motivos se repetir com mais frequência.
Tenho inventado alguns passatempos bananinhas como preparar a mala de viagem mesmo que faltem quarenta e cinco dias para a viagem, tenho lido e também escrito muito.
Quanto a mim e a ele, continuamos na mesma e a ausência de novidades me incomoda. Até existem novidades mais algumas coisas não devem ser ditas.
De qualquer maneira não é nada extraordinário que mereça ser relatado.
Tem feito muito calor. Adoro dias e noites de clima quente. Apesar de que se a situação permanecer assim por mais cinco dias sem chuva, os rios vão começar a secar.
Chuva é até gostoso mas pode ser muito melancólica. E com minhas oscilações humorísticas não acho que coisas melancólicas sejam uma boa ideia...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo XVI

A felicidade está nas pequenas grandezas.
Que bom que o final de isso tudo ainda está longe. Seria muito entediante caso tudo acabasse agora.
Hoje foi outra noite muito quente. O clima da cidade tem variado bastante, mas isso é bom. Afinal ninguém gosta de coisas repetitivas...
Estou sozinha em casa! A espera de meu telefone tocar. Detesto silêncio quando estou em casa sozinha. Barulho às vezes pode ser muito necessário...
Eu podia estar nervosa, com raiva, triste e até sozinha, mas bastava ouvir a voz dele que eu me sentia completamente bem de novo. Todas as minhas preocupações iam se esvaindo do meu pensamento, até que não fosse possível detectar mais nenhum tipo de energia negativa em minha mente. Meu coração se inundava dum calor terno e forte, e eu quase o sentia aqui comigo.
A presença dele projetada pela minha mente era sempre muito forte, a ponto de me deixar meio zonza quando ia embora.
Fiquei curtindo a minha solidão com uma música muito linda que me tocou bastante. "Não acredito que alguém sinta o que o sinto por você agora. [...] Você é minha protetora, meu porto seguro". Perfeito, não acha? Sim, muito lindo mesmo, e isso é apenas um fragmento da tradução.
Fico pensando no poder que a música exerce sobre nós. Um ritmo pode nos trazer alegria, felicidade, tristeza, ânimo ou desânimo, tudo dependendo de alguns fatores principais: seu atual estado de espírito e seu nível de receptividade para com a música.
Mas, são com pequenas coisas que a felicidade é construída.
Uma música, um telefonema, uma carta antiga, tudo isso pode lhe transportar ao maravilhoso mundo da recordação, que abre a porta dos fundos do paraíso dos sonhos.
É só saber enxergar...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo XV

Realmente, ao que tudo indica, as coisas ainda vão se prolongar por um bom tempo.
Eu queria me distanciar um pouco. Queria saber como seria a reação dele, se sentiria a minha falta, o que pensaria da minha ausência. Mas me afastar parecia algo completamente irrealizável. Eu estava envolvida demais.
Quando o revi após a tragédia que antecedeu o fim de semana, todo o meu sofrimento, toda a minha tristeza e a vontade de afastar-me dele foram deixados de lado por um momento.
Esperei que ele me visse, e quando seu olhar encontrou o meu, lancei meu sorriso mais feliz e sincero. E quando ele retribuiu o sorriso, aquilo fez meu coração desenfrear no meu peito e eu confirmei o quanto estava apaixonada, o quanto o amava.
Gostaria de dar um bom final a nossa história. Várias vezes sonhei acordada com o dia em que ele finalmente acordasse e percebesse que me ama também.
Ficaríamos juntos enfim. E isso realmente me importava muito.
Eu desejei com tanta força! Eu quis, eu quis e eu quis muito, muito mesmo, ansiosa e desesperadamente, eu quis com a minha alma e com meu coração e com todos os recursos que abrangem sentimentos em meu corpo.
Mas eu não disse que a história acabou.
E também não falei que deixei de querer.
Acontece que tenho medo do rumo que as coisas estão tomando. Tenho medo de que todo meu amor seja despejado ladeira abaixo sem que ele pegue.
Tenho muito medo de que a história tenha um final ruim e desagradável, triste e sem sal. E isso contradiz todos os meus princípios.
O final não necessariamente tem de ser a melhor parte da história. Mas um final ruim pode estragar toda uma narrativa que até então foi excelente. O final é a chave para que todos gostem e se recordem da história.
Eu só espero e torço muito para que o final desta seja melhor do que está me parecendo agora. Será possível? Só o tempo vai responder.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo XIV

As lágrimas preenchem todo o espaço que meus olhos permitem, e começam a percorrer meu rosto quando não há mais espaço e necessitam transbordar.
O mundo inteiro avisou, até ele avisou, mas eu me recusei a acreditar. Eu o amo tanto... Será possível que nunca vou me apaixonar por alguém que me ame? Por que afinal o cupido sempre acerta apenas a mim e se esquece de acertar meu par? Eu realmente não sei o por quê.
Ele pediu para que eu não lesse. Ele pediu, e isso eu não posso negar. Acontece que eu sou muito teimosa e é claro que eu não lhe dei ouvidos.
Peguei o celular e comecei a ler as mensagens dela.Li e reli todas, e é claro que eu não podia deixar de olhar as datas, logicamente eu não esqueceria desse detalhe tão importante.
É claro que isso me abalou, mas só senti a coronhada em meu peito quando li os intens enviados. Quando vi o que ele escreveu. Quando constatei o que ele sentia, porque isso era o que importava. Tive muita vontade de chorar. Meus olhos se encheram de água várias vezes e eu pisquei muito para secá-los. Eu não queria chorar por ele na frente dele. Teria de esperar até chegar em casa.
Quando há muito tempo ele me disse que estava gostando dela, eu senti meu mundo desmoronar, e como disse, foi muito difícil permanecer em pé. Esse mesmo sentimento veio à tona novamente, e desta vez foi muito bom que eu estivesse sentada.
Eu me senti a mais miserável das mulheres.
A tarde estava bem ensolarada e eu estava com calor. Eu havia chegado lá tão bem! Estava tão feliz! Simplesmente porque eu iria vê-lo. Antes, antes desse incidente desagradabilíssimo, todos estavam me perguntando: "que euforia é essa menina, viu passarinho verde?" e eu respondia: "é, quem sabe eu não vi mesmo", enquando em minha mente fértil eu imaginava um passarinho não verde, mas de olhos verdes, talvez uma calopsita, e saía rindo.
Novamente o que minha mãe me disse sobre alegria se transformar em tristeza aconteceu.
Bastou um conjunto de frases num celular para arrasar com toda a minha alegria.
Finalmente quando cheguei em casa, chorei e chorei muito. E agradeci a Deus por estar sozinha e não haver ninguém para testemunhar isso.
Não foi um choro alto; foi silencioso. Mas mesmo assim foi um choro de desespero. Eu estava completamente sem rumo. Não enxergava nenhum caminho. Não parecia haver solução. Eu o amava. E o amava desesperadamente. Mais que nunca. Esse amor ardia em meu peito, queimava meu coração, e de todas as vezes que me apaixonei, nunca senti uma dor tão forte.
Eu poderia ficar aqui falando e falando mas ainda sim não definiria a dor que senti naquele momento.´
Naquele instante eu era uma borboleta, presa num casulo no topo de uma árvore. Então de repente a árvore é cerrada e o casulo cai num buraco profundo. O casulo se rompe, mas minhas asas estão molhadas e não há nenhuma esperança de voo. Apenas a certeza de que serei uma borboleta que não voa e terei uma vida curta e sombria dentro de um buraco. Traduzindo a situação para meu dia-a-dia: eu sou a borboleta, ele é o horizonte que almejo. Ela é o buraco que culmina toda e qualquer possibilidade de que eu alcance meu tão sonhado horizonte. O horizonte que eu admiro e amo. Ele.
Senti o vazio em meu peito, resultado de um infindável sofrer. Cheguei a desejar ter um controle remoto de minha vida, para clicar em avançar até o momento em que eu estivesse curada. Mas, além disso ser impossível, parecia que isso nunca acabaria.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo XIII

Minhas recorrentes alternâncias de humor estão me dando medo.
Um dia minha mãe me disse para que eu tomasse mais cuidado com a minha bipolaridade. No começo eu pensei que fosse bobagem, mas agora vejo que ela tinha toda a razão.
Ela me disse que era bom sentir toda a alegria que eu sinto, mas o perigo é que a tristeza também pode vir de repente e na mesma proporção.
O dia que começou de maneira muito inspiradora foi muito bom, satisfazendo a minha "pacata e completa felicidade".
Mas agora, agora a noite... Fiquei tão triste! Nem que eu vasculhasse os trilhões de verbetes existentes num dicionário eu encontraria palavras adequadas para descrever o que sinto.
Não me entendo. Só sei que estou com vontade de pedir desculpa por tudo e para todos, dizer o quanto me arrependo de algumas coisas, dizer que os amo, e isso seria sincero, enfim, um surto total, não concorda? Gostaria de saber qual a fundamentação disso.
Acontece que eu não sou alegre 24 horas por dia. Como qualquer pessoa normal (ou não) eu também sinto minhas tristezas e minhas aflições.
Mas assim como tudo na vida, não deve demorar muito a passar.
Tudo o que eu mais queria era que ele me abraçasse agora. Ao menos por este momento...
Mas é necessário outra vez, aguardar mais um amanhecer. Só espero que não seja em claro. Gostaria muito de dormir um pouco.

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo XII

A noite passou num piscar de olhos.
Tive insônia boa parte dela. A ideia de que finalmente se aproximava a hora de reencontrá-lo, após um intervalo de quatro dias, era bastante animadora.
23h. Não havia o mínimo sono. Não, minto. Havia sono, mas não havia vontade de dormir. Ou o contrário. Enfim, algo do gênero. Afinal, qual a diferença? Não me importa mesmo.
Fiquei escutando rádio e mandando mensagens pelo celular. Eu queria muito conversar, e sabia que naquele instante também deveria haver alguém no mundo com insônia e créditos para me responder. E de fato havia.
23h30. Parei de enviar mensagens. Era melhor eu ir dormir se não quisesse perder a hora no outro dia, e chegar atrasada num dia tão esperado era realmente um desperdício.
O próximo amanhecer representava, além de um reencontro com ele e com várias pessoas, o fim de meu feriado entediante. Portanto, eu me sentiria bastante culpada se perdesse a hora.
Ventava muito lá fora. A garoa começou a cair. O vento a transformava numa falsa tempestade, já que o barulho contínuo vindo da rua era o rebater e balançar das árvores, causado pelo próprio senhor vento e não pela madame chuva.
A poeira continuava subindo. Os finos e persistentes pingos de chuva não eram suficientes para amansá-la. E diante desse cenário, um ser com insônia, no caso eu, observava tudo do ângulo esquerdo de meu quarto, proporcionado pela localização de minha cama diante da janela.
00h30. Haveria ainda alguém tão insano quanto eu que estivesse acordado? Para minha felicidade, sim. Mandei uma última mensagem.
Fechei os olhos e fixei-o em minha mente por uns instantes, lembrando ao meu cérebro a figura com a qual eu gostaria de sonhar. Como se fosse possível que ele esquecesse...
Adormeci. Foi um sono diferente. Não foi normal, nem anormal também. Esteve longe de ser algo reparador, mas eu não estava assim tão cansada para que meu sono precisasse me descansar. Talvez no final do próximo dia estivesse.
Abri os olhos e já amanhecera.
Peguei meu celular e haviam mensagens não lidas. Em meu rosto despontou um daqueles largos sorrisos. Começava um novo dia. E começava de uma forma muito inspiradora...

domingo, 5 de setembro de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo XI

Se alguém me perguntasse como estou, nesse exato momento, eu diria "na minha pacata e completa feliz realidade".
Tudo bem, as pessoas já deveriam ter se acostumado com as minhas recorrentes alternâncias de estado de humor. Hoje eu estou FELIZ.
Quanto tempo é necessário para a saudade se proliferar em nós mesmos? Particularmente, muito pouco tempo, quando eu digo "tchau!" já estou começando a sentir saudade...
Conversamos um pouco hoje. Nunca pensei que ficaria tão feliz depois de falar ao telefone. Às vezes eu mesma me surpreendo. Tenho mania de ficar feliz com as coisas simples, com pequenas coisas, com poucos detalhes... Mas a felicidade que essas coisas me trazem é tão gostosa, que é impossível resistir.
É claro que feriados prolongados têm muitos lados negativos. Principalmente se você não viaja e é obrigada a escolher entre a televisão, o computador ou o telefone. Eu escolho o telefone, já que ele é o caminho mais próximo a todas as pessoas que você quer conversar. O problema, é que não se pode ficar 24h no telefone. Primeiro que ninguém conseguiria pagar a conta. Segundo que depois de 45 minutos pendurada na linha, seu ouvido começa a doer e o braço começa a ter dormência.
Depois uma boa opção é a internet. Você pode conversar com todo mundo e fazer muitas outras coisas também. O problema é que uma hora você cansa, e a saída é a televisão.
Mas, vamos ver a positividade disso tudo, certo?
O melhor dos feriados é que você passa mais tempo com a família, e pode conversar mais com ela. Outra coisa boa dos feriados, é que você fica com saudade dos amigos, e revê-los depois é tão bom!
Ontem li trinta páginas de um livro e li algumas revistas. Senti que meu dia seria muito improdutivo se eu ficasse apenas alternando entre eletrônicos.
Ah, é claro que também pensei nele.
Voltando ao assunto inicial, "minha feliz realidade", não aconteceu nada de muito concreto para que eu estivesse assim tão feliz. Acontece que eu ando tendo um pressentimento muito forte de que alguma coisa muito boa está por vir. Ok, pode até ser que eu esteja criando expectativas e esperanças inúteis, mas eu prefiro mantê-las aqui comigo, mesmo que isso possa resultar num tombo muito feio.
Afinal, ninguém deixaria de ter um sonho perfeito simplesmente porque sabe que vai acordar depois.
Então é isso...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo X

Eu não desisti mesmo.
A primeira noite do mês de setembro de 2010 foi fresca e agradável no quesito clima. Agradável no quesito companhia também.
Contemplei o céu uns instantes como há muito tempo não fazia. Não estava muito estrelado, talvez as luzes da cidade estivessem ofuscando o brilho das estrelas. Mas mesmo assim foi possível admirar um pequeno grupo delas que estava espaçado lá nas alturas do infinito.
Uma delas, não muito grande nem muito pequena, muito brilhante, trouxe a lembrança dele. Refleti alguns segundos. A estrela era luminosa. A estrela era de porte belo. A estrela era um pedaço de céu. A estrela que lançava luz ao mar, à terra e ao ar. A estrela singela e distante. E eu não poderia alcançá-la, ainda que eu percorresse a voo cem mil léguas pelos ares, ela continuaria distante, porque o infinito não é algo alcançável.
Questionei-me o que mais havia no mundo que fosse inalcançável no infinito. Senti que meu coração estava assim... Levado sem querer ao longe por ele, e como se agora precisasse voltar para seu lugar. O problema é que já era muito tarde para fazer esta escolha...

domingo, 29 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo IX

Mais algum tempo se passou até que a verdade, a verdade que eu recusava a aceitar, talvez por ela ser triste e ir contra a todos meus esperançosos sonhos, a verdade cruel, a cruel verdade mas ainda sim verdadeira, passou-se algum tempo até que eu a absorvesse.
Chegava ao fim de um dia sem vê-lo. A saudade fazia meus olhos lacrimejarem. Eu tentava não ser melodramática, mas há coisas que estão no sangue e que não são deixadas de lado assim tão fácil.
Como eu já disse antes, descrevi até, haviam alguns detalhes nele que eu sabia de cor. E sabia naturalmente. São coisas simples, mas eram o que sustentava sua lembrança em minha memória enquanto estávamos longe um do outro.
Olhei-me no espelho. "Ele não sabe seus detalhes. Eles não observa seus olhares. O coração dele não ameaça pular para fora do peito quando ele te vê. E ele não sonha com você todas as noites."Foi o que meu reflexo pareceu querer dizer.
Era como se finalmente ocorresse algo que há muito não ocorria: eu me encontrei. Isso mesmo. Resgatei minha alma do fundo de mim mesma, como se eu fosse um grande baú ou um poço muito fundo, e que a minha personalidade estivesse lá, vagando talvez.
Eu encontrei a mim mesma... foi uma emoção muito forte. Eu ainda era eu, ainda estava viva! Senti minha pulsação sanguínea frenética a percorrer minhas veias e tudo foi um grande choque.
Era como se eu estivesse vivendo um sonho, vivendo a vida dele, ou em torno dele, algo parecido. Tornara-se meu sol e estávamos em órbita. Mas isso mudara um pouco agora. Voltava a ser a protagonista de minha vida.
Mas, enquanto recuperava minha autoestima, recuperava meu eu, podia sentir ainda o amor vibrar em mim. E junto com ele, uma urgência em ser amada. Eu queria que tudo o que eu andei sentindo tivesse uma recompensa, e uma recompensa seria ter o amor dele na mesma proporção que o meu.
Havia a opção de virar a página, ou reescrevê-la. A segunda era perigosa, mas foi a minha escolha. É óbvio que eu não desistiria assim tão fácil...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo VIII

Descobri que meu coração é mais forte do que eu poderia imaginar. Ter um infarto na adolescência seria bastante interessante, e eu poderia até ficar famosa com isso. Felizmente ou infelizmente, isso não aconteceu.
Meu dia foi bastante comum. Mas, é claro que a parte em que estive com ele compensou o fato de meu dia ter sido apenas uma enfadonha e banal rotina.
Tudo bem, não foi tão entediante assim.
O fato de eu estar vendo por um ângulo pessimista as coisas é uma reles consequência da minha crise bipolar de humor - humor que não está dos melhores hoje - mas, como sempre isso não vai demorar tanto tempo assim para passar.
O vento está soprando lá fora. A janela do meu quarto insiste num batuque ritmado que por incrível que pareça não me irritou. Ainda.
Não sei o que falar, nem o que pensar portanto muito menos o que escrever.
A guerra interna em mim mesma me deixou exausta, e ainda não tive tempo para me recuperar.
Queria vê-lo nesse momento. Talvez conversar com ele me fizesse bem e melhorasse a minha crise, porque nem eu mesma estou me aguentando.
Minha mão direita brigou com a esquerda, porque a direita pegou o telefone para ligar para ele, e a esquerda não deixou. Não deixou porque já havia ligado e não havia necessidade de ligar outra vez. Não havia necessidade mas havia MUITA vontade. Eu queria tanto... Era quase insuportável me controlar.
São pouco mais que oito horas. Faltam dez horas para que o dia amanheça e eu acorde.
Ao mesmo tempo em que agora quero que o tempo passe, ao adormecer desejo que o tempo se congele um pouco, para que eu possa aproveitar meus sonhos um pouquinho... Já que eles não acontecem de verdade...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo VII

Dicionário Aurélio:
Coração: Órgão oco, muscular, sito na cavidade torácica, formado de duas aurículas e dois ventrículos, e que recebe o sangue e o bombeia mediante movimentos ritmados. A natureza ou a parte emocional do indivíduo.
Despedir: Fazer sair; despachar.
Desistir: Não prosseguir (num intento); renunciar.
Intenção: O que se deseja alcançar; vontade.
Involuntário: Não voluntário; independente da vontade.
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Definições. Se eu soubesse definir meus sentimentos tão bem quanto o dicionário define palavras, talvez fosse fácil expressar o que sinto. Se pudesse ao menos ter a clareza de um dicionário para discernir pensamentos de sentimentos, quem sabe a vida não seria um pouquinho menos complicada.
Meu pequeno e oco órgão, o mais forte e resistente músculo em meu corpo, tem se sentido tão frágil... Meus pensamentos perversos ficam a maltratá-lo, o pobrezinho... Em tudo que vejo e tudo que faço, lá estão eles, os safadinhos, sempre onipresentes, me atordoando...
Eu tentei despedi-los, despachá-los. Mandá-los para uma excursão espacial, de preferência em outra galáxia que não a Via Láctea. Mas almejar é algo diferente de alcançar...
Hoje declarei carta branca a eles. Minha alma foi intermediária entre a batalha travada em meu corpo: cabeça X coração. Eles desistiram da guerra, porém não houve um consenso muito claro.
De qualquer forma, o que quis dizer é que pensei em desistir. Embora isso não seja uma questão de escolha. Desistir parece uma ideia vaga e abstrata, ao relento, fraca e quase impossível.
Desistir daquilo que nas últimas semanas tem ocupado toda a sua mente, desistir daquilo que acelera seu oco órgão denominado coração, desistir de tudo, todos os sonhos, tudo. Isso soa muito triste para mim...
Mesmo que fosse necessário, mesmo sendo preciso, mesmo assim há em mim uma louca vontade de persistir... Deve ser essa irracionalidade que ocorre sem nossa intenção que as pessoas chamam de amor...

domingo, 22 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo VI

Adormeci muito tarde. As horas não faziam muito sentido para mim. Tinha uma vaga esperança de que não sonharia com ele, pois assim teria algumas horas de sossego. Ingenuidade minha, já que era muito previsível que ele estaria novamente em meus sonhos, assim como ocorria na maioria das noites.
Não me lembro muito bem do que eu sonhei, apenas algumas imagens vagas que não fazem muito sentido. O que sei é que acordei assustada, pois em meu sonho havia acontecido algo de mal a ele, e apesar de que eu não saiba direito o que foi, eu tinha consciência de que algo ocorrera e fiquei muito impressionada.
Abri os olhos, num sobressalto. Deparei-me com a escuridão do meu quarto. Não sabia se estava dormindo ou se havia acordado. Apalpei a cama desesperadamente procurando meu celular, para verificar as horas como de hábito.
Ao segurar o telefone, uma surpresa: havia uma mensagem recebida. Era dele. Não estava sonhando. Eu havia acordado. Estava tudo bem: com ele, comigo. Estava feliz por isso.
Mas não sei descrever a minha reação ao constatar que, definitivamente, ele era a minha inevitável e talvez feliz realidade, e não havia nada que eu pudesse fazer para fugir ou evitar isso...

sábado, 21 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo V

Nunca pensei que me encaixaria no termo "garota problema", mas nas últimas semanas ele pareceu se adequar perfeitamente a mim.
Não que eu procure encrenca. Apenas me envolvo em situações problemas e só descubro isso depois de envolvida.
Pensei que fosse ruim estar presa a um triângulo amoroso. Estava enganada, porque isso fica pior quando você descobre que não é apenas um triângulo, e sim que há mais pessoas envolvidas do que você pensa.
A questão é que você se sente culpada por algo que você fez mas na verdade você não fez nada; já que ninguém manda no coração.
E os problemas estavam apenas começando, embora eu me recusasse a aceitar isso.
Acontece que havia outro que gostava dela. E havia também, algo muito inesperado que me surpreendeu um pouco de certa forma, outra que gostava dele.
A situação que eu me encontrava era mais complicada do que meus cálculos apontavam.
Quando a outra é alguém que você praticamente não conhece, a "competição" é, podemos dizer, mais... Fácil. Você não se importa com quem está machucando... Pouco se importa com o que pensará... Mas se esta pessoa envolvida é alguém próximo de você, uma amiga? Aí o cenário muda radicalmente, porque você não pode agir da mesma maneira do que antes. E agir da mesma maneira que antes é quase incontrolável. Embora agora, com a alteração do cenário, isso seja errado pelos meus princípios.
Queria pensar em outra coisa. Em como o início de tudo, o início do que eu chamei de sonho, era bom. Lembrei das tardes juntos... Lembrei dos segredos trocados... Lembrei das risadas compartilhadas... Lembrei de quando éramos apenas amigos um para o outro, quando meu coração não ultrapassava isso. Quando não havia ninguém para se magoar a qualquer momento...
Empurrei esses pensamentos com uma mão abstrata. Eles não ajudariam em nada agora.
Tentei me concentrar em outra coisa. Os ponteiros do relógio em meu pulso mantiveram minha concentração por uns segundos. Até que tudo veio a tona novamente e eu pensei no que não queria pensar.
Não queria mas era inevitável. Tão inevitável quanto o balanço das ondas do mar, quanto o correr das àguas dos rios; quanto as chuvas de verão... Tão inevitável quanto meu amor por ele naquele momento. ..

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo IV

Todos os medos e receios anteriores pareceram tolice diante da situação. Nossa amizade continuou a mesma, invicta, após a tão temida conversa. Apesar de não parecer muito, eu sabia que de alguma forma as coisas mudaram, enquanto por outro lado não mudou nada. Mudaram de uma maneira interna, clandestina...
Ele nunca mais mencionou ela em nossas conversas. Isso me deixava feliz, mas eu ficava muito inquieta por não saber mais o que ele pensava sobre ela ou como andava o relacionamento deles. Passei a ter trabalho dobrado para descobrir isso, pois dependia do que as pessoas falavam e tinha de ser discreta para investigar, o que é muito complicado.
O que mais me deixou feliz é que hora nenhuma eu senti que ele estivesse distante de mim, já que isso era o que eu mais temia. Aconteceu que depois de um certo tempo eu já não sabia se me agradava ou não o fato de tudo ser como antes. Fiquei feliz pela atitude dele, que provou que era meu amigo de verdade; embora o fato dele não ter tomado nenhuma atitude demonstrasse que realmente éramos SÓ amigos. O que consequentemente, culminava com qualquer esperança que eu viesse a sentir.
Tive que cogitar mais possibilidades. E se eu viesse a esquecê-lo? E se eu não conseguisse? Eu me encontrava num beco sem saída, porque a única possibilidade que eu conseguia enxergar naquele momento era a de que mais cedo ou mais tarde, nós dois estaríamos juntos.
E para meu coração aflito, não custava nada esperar..

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo III

Eu não sabia o que fazer. Ele parecia estar feliz, e longe de mim tirar essa alegria dele. Pelo contrário. Eu só queria que fosse diferente, queria fazer parte dessa alegria, queria que ele estivesse feliz, mas com um detalhe - comigo -.
Continuei sendo sua amiga. Às vezes, deixava exposta para quem quisesse ver toda a verdade. Fosse pelas minhas ações, fosse pelas minhas palavras. Depois castigava-me em pensamentos por ter falado algo errado ou agido assim.
De qualquer forma, ele pareceu não notar. Tudo seguia naturalmente. quando estávamos juntos, ficava feliz por ele não ter descoberto. Mas, quando ela se aproximava dele, eu tinha uma louca vontade de puxá-lo pelo braço e impedir que ele se afastasse de mim e se aproximasse dela. Só então, entristecia-me o fato dele não saber a verdade. A inércia a qual estava presa angustiava-me: mesmo que uma força maior tentasse alterar meu estado (imóvel) eu não podia entrar em movimento.
Eu sabia que devia fazer algo. Mas tinha medo de por nossa amizade a perder, e isso eu não suportaria. Distanciar-me dele de alguma forma era completamente inimaginável.
Mas eu tinha que agir. Tomei a decisão de contar a ele toda a verdade. Diria tudo o que precisasse ser dito, tudo o que andava escondendo dele nas últimas semanas. Decidi arriscar tudo mesmo que fosse por nada; porque em mim habitava a certeza de que nada mudaria.

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo II

Ele se tornou pra mim, uma espécie de sol. Quando estava com ele havia luz em meus pensamentos, em minha alma, em mim.
Embora tudo estivesse tão lindo e tão perfeito, e o mistério e o segredo rodeasse-nos deixando nossa convivência ainda mais encantadora; já diziam os velhos e sábios profetas que nada é eterno.
Como toda boa, velha e sábia profecia, esta não demorou a acontecer.
Então de repente, em um dia aparentemente normal, eu vi um daqueles sorrisos intensos, intenso de orelha a orelha, despontar no rosto dele. E ele revelou estar gostando de alguém. - Alguém que óbviamente não era eu -.
O que senti naquele momento não foi algo muito descritível. O espaço ao meu redor era apenas algo insignificante que começou a insistir em rodar. Perdi a noção do tempo. Ou melhor: não havia mais tempo. Nem tempo, nem espaço. E consequentemente a gravidade se extinguira. O fato de tudo estar girando começou a me irritar, e eu passei a lutar desesperadamente para não perder o foco de seus olhos. Nunca foi tão difícil permanecer de pé.
Tudo isso foi muito rápido; um segundo talvez. Lembrei de que deveria reagir com alguma atitude normal. Esbocei um sorriso. Muito sutil, não estava com a mínima vontade de sorrir já que não havia a mínima graça, mas ainda sim não foi um sorriso amarelo, foi sincero.
Baixei o olhar para minha mão direita. Ele a segurava, com nossos dedos entrelaçados. Um gesto com significados tão diferentes um para o outro. Disse algumas palavras que fizeram algum sentido na conversa. Ainda não descobri de onde extraí a voz naquele momento. Dei uma desculpa qualquer e saí caminhando sozinha, fitando o horizonte sem prestar atenção, enquanto o chão parecia não existir sob meus pés.

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo I

Conhecer alguém, se apaixonar, ter seu amor correspondido e um próspero namoro. Lindo, né? Mas a realidade não acontece sempre assim, dessa maneira. Não mesmo.
E se... Já cogitou hipóteses sobre as inúmeras coisas que podem ocorrer em sua vida? O que aconteceria se você se surpreendesse com seus próprios sentimentos? E se você se apaixonasse por seu melhor amigo?
São dúvidas demais e respostas de menos. E mesmo antes, antes de tudo, um dia eu cheguei a imaginar e a reproduzir mentalmente todas as possibilidades. Embora nunca tenha chegado a acreditar que viveria todas elas.
Imagine que tamanha foi a minha surpresa ao perceber o que meu coração insistia em esconder. Foi nesse impacto de emoções, nesse ninho de sentimentos confusos que eu recusava a discernir, exatamente nesse cenário que se iniciou uma espécie de sonho. Um sonho que era real.
Todos os dias eu o via. Passei a conhecer tudo sobre ele. Costumava observar o brilho de seus olhos verdes, que variava com a iluminação do ambiente enquanto conversávamos. Por instantes, pensava se os meus reluziam da mesma forma.
Às vezes, o mais espontâneo dos sorrisos inundava meus lábios. Eu parecia uma louca, rindo sem motivo, mas inicialmente a ideia de que ele não soubesse o que eu estava pensando a seu respeito era divertida.
Eu gostava de estar perto dele, me fazia bem. Era como se, quando ele me abraçasse, todo meu corpo se acalmasse, e eu não quisesse sair mais dali.
Os dias passavam e meu mundo parecia estar completo em absoluto. Foi quando tudo desabou.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Surpresa!

Os dias vão passando sem parar. As coisas vão se aderindo à rotina, adquirindo uma certa regularidade perigosa, ameaçada a se transformar na mais enfadonha das coisas: o cotidiano.
Que as coisas jamais se repitam diariamente. Até as coisas boas, até elas não devem cair na rotina. Aquilo que é bom é escasso, e o que é escasso não pode ser repetitivo, porque Deus me livre de enjoar das boas coisas.
Sou absolutamente imprevisível. Gosto de surpreender. Não só a todos como a mim mesma. Gosto de surpresas boas. Surpresas boas são sempre lembradas e aquilo que merece ser lembrado geralmente é vivido com intensidade, assim como eu vivo.
Dizem que quanto maior a altura, maior a queda. Isso pouco me importa. É claro que cautela é indispensável, mas deixar de fazer algo por medo de sofrer é pura ingenuidade.
Tudo que faço, faço com dedicação, com entrega, com intensidade. Talvez por isso as coisas que faço lembrem quem sou, coloco um pouco de mim mesma em todas elas.
Ou é inteiro ou não é. Já dizia Clarice, "Ou toca, ou não toca."

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Entre olhares e palavras...

Há quem diga que olhares dizem mais que palavras... e eu concordo plenamente.
As palavras tem o poder de omitir a verdade... Ironizar... Pronunciar sentenças falsas. Mentir.
Os olhos não mentem. São o espelho da alma. São a janela do coração. Eles tentam suicídio por nós, se afogando em lágrimas quando entristecemos...
Quando nos alegramos, os olhos brilham feito estrelas cadentes...
Quando estamos com raiva, eles se endurecem. Adquirem brilho estranho, luminosidade de labaredas incandescentes.
E quando nos apaixonamos... Ah, os olhos nos entregam. Nos denunciam, colocam nossos sentimentos na bandeja para quem for suficientemente esperto para ligar os pontos e perceber tudo. E se derretem... Se aquecem feito fogo. Como ocorre no coração.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

10 Coisas que apenas EU faço nas férias


1- Acordar cedo (7h!) só para ficar mais tempo atoa.

2- Colocar som alto às 7h30; mesmo sabendo que os vizinhos não são loucos como eu, querem dormir já que estão de férias, e é provável que eu os acorde e os deixe de mau-humor e com vontade de me estrangular por causa disso.

3- Comprar uma revistinha infantil de "Vamos Colorir?" e dedicar 2h do tempo livre para colori-la, já que por incrível que pareça eu não tinha nada melhor para fazer.

4- Gastar R$25 num livro e lê-lo em 2 dias. Poderia ter enrolado mais para ler, assim eu teria um bom passatempo enquanto meu pc não volta do conserto. Mas eram apenas 200 páginas e a história era boa! Já era.

5- Contar novidades para seu diário; porque todas as suas amigas viajaram e mesmo que apenas duas estejam na cidade, não tenho crédito e nem elas.

6- Ir de segunda a sábado na livraria para ler as sinopses dos livros e escolher qual vai ser o próximo que eu vou comprar assim que tiver uma graninha. (Difícil escolher...)

7- Fazer contagem regressiva para viajar até um lugar distante e desconhecido: BH!

8- Entrar no site da UFMG para olhar os horários das turmas de medicina e anotá-los. (Ah, só estou me adiantando. Faltam apenas 3 anos para o vestibular!!!)

9- Apostar corrida com um cachorro na rua. (Eu estava precisando praticar esportes e o cachorrinho estava afim de brincar...)

10- Ficar acordada até 2h da manhã, mesmo sem fazer absolutamente nada de produtivo, simplesmente porque as férias são curtas e diante disso dormir parece uma completa perda de tempo..

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Aos Pedaços


Como a mais fina porcelana que acaba de se estilhaçar em mil cacos pelo chão: é assim que se encontra meu coração.
Ele já esteve assim antes. Mas quando se quebra pela primeira vez, acho que os cacos são maiores e mais fáceis de colar. Então, se tornar a cair e a quebrar, os cacos ficam menores, e o conserto parece impossível. É assim que me sinto. É exatamente dessa maneira que estou.
Os segundos são tão longos que soam incontáveis. Há algum tempo desisti de contá-los. Agora eles são apenas algo com que sei que não há como lutar, que eles vão continuar a passar e a passar, a envelhecer-me e a esvair a vida de meu corpo aos poucos, incontrolável e lentamente.
Mas o tempo não significa muito para mim diante de como me sinto.
Eu fico aqui, pensando nele, a contar os caquinhos que são a palpável conclusão de que o amo... Esperando... - não sei o que espero - Talvez ele desista da outra e olhe pra mim... - não creia no impossível - O impossível não está assim tão distante...
Em meio a soluções e respostas pessimistas num diálogo confuso e doentio comigo mesma, a imagem dele invade toda minha mente, e os cacos estão todos colados.
E de repente, uma lembrança vem indignar-me: o beijo deles que partiu meu coração.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sempre há uma Esperança


Como já disse, adoro sonhar, mas os sonhos têm também seu lado ruim. Eles nos iludem, mesmo sem ter a intenção.
Mas talvez eu esteja sendo pessimista demais, negativa demais. Se para mim sonhar é tão importante, acreditar na possibilidade desses sonhos também tem sua importância.
E além de importante é motivador. É tão bom acreditar que existe uma esperança, uma possibilidade, que as coisas podem ser mais que utopia... E existe mesmo.
É claro que se você sonhar que tem asas e voa, é meio difícil de realizar seu sonho, mas mesmo assim não é impossível. Então por que não crer em coisas mais "simples", como uma grande conquista, uma realização profissional, ou até mesmo um amor?
Dentro das medidas do possível, é necessário apostar mais no que acreditamos, no que sonhamos, no que queremos. E não é questão de luxo ou mimo: realizar sonhos e ter esperanças são coisas já presentes no DNA humano, mas precisam ser descobertas e exploradas por nós mesmos. Ao longo do tempo, aprendi isso.

domingo, 11 de julho de 2010

São Apenas Sonhos... Apenas!


Mesmo quando você, assim como eu, chegar a conclusão de que nada é eterno, nunca deixe de sonhar.
Os sonhos são praticamente tudo em minha vida. Sem eles, é como se eu vivesse sem chão sob meus pés; ou como se faltasse-me o ar pra respirar.
Mas, quem nunca teve um sonho muito, muito bom, perfeito, e que não desejou que ele fosse real?
Nunca entendi porque meu cérebro é tão masoquista e insiste em coisas impossíveis. Não sei explicar, são coisas que tenho plena consciência de que não vão acontecer, coisas que jamais cheguei a cogitar quando acordada, mas ainda sim estão presentes todas as noites em meus pensamentos. Uma brincadeira de muito mau gosto, ficar me auto-pregando peças desse jeito. Mas, é inevitável, não controlo minha mente.
De qualquer maneira, não vou negar que apesar de serem masoquistas, esses sonhos são o que tem mantido o sorriso em meu rosto há muito tempo... sei que são apenas sonhos, apenas... Nada mais que minha imaginação, que desejos profundos de minha alma, que ilusões para me alegrarem as noites... Mas é que às vezes, o mundo das fantasias é tão tentador que simplesmente não dá pra resistir.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Fim do Conto de Fadas

Na vida, a única certeza que tenho é que tudo tem um fim. Por mais perfeito e encantador que aquele dia, aquele instante, aquele período seja ele vai acabar. Não que eu seja pessimista ou esteja praguejando. Estou apenas dizendo o que mais cedo ou mais tarde você também vai descobrir e chegar a esta mesma conclusão, da mesma forma que aconteceu comigo. Porque, querendo ou não, tudo tem uma duração, um tempo que parece estar contado para começar e acabar.
Parecia que tudo estava certo. Parecia que as coisas tinham entrado nos eixos: se estabilizado. Eu podia sentir meu coração calmo novamente, tão calmo como há muito tempo não ficava. O vazio que em mim se formara parecia ter sido preenchido, e eu estava completa e assustadoramente feliz.
Essa imensa onda de alegria que em mim veio, foi tão forte e tão intensa, tão perfeita e fascinante, que pensei que desta vez fosse durar! É que depois de um tempo sem novas alegrias, novas emoções reais e verdadeiras, passa-se a acreditar inconscientemente de que nada de novo vai acontecer. E quando acontece, parece que vai ser duradouro. Pelo menos, é o que se espera.
Era tudo tão perfeito ao meu ver... Tão certo, tão terno. Mas, como já disse, tudo o que é bom dura pouco, e só por isso foi bom. Porque o maior valor só é atribuído após a perda. Os melhores momentos da vida, são aqueles que nos apertam o coração de saudade, enchem os olhos de lágrimas, e nos fazem refletir sobre cada segundo que passou, a fim de não esquecer nenhum detalhe, e agradecer a Deus simplesmente por poder estar vivo para ter passado por isso.