Ao cair da noite, comecei a sentir realmente o frio europeu.
Havia um detalhe no quarto que eu não disse: um espelho comprido na parte interna da porta do guarda-roupa.
Após vestir o vestido, o sobretudo, calçar o scarpin, arrumar meu cabelo (encontrei um babilize na mala! Fiz chapa e cachinhos nas pontas) e fazer a maquiagem, olhei-me no espelho comprido. Não era eu. Não poderia ser. Parecia uma mulher de uns dezenove ou vinte anos.
Minha sombra rosa clara cintilava por cima de meus olhos castanhos. O rímel, delineador e lápis pretos completavam a maquiagem dos olhos impecavelmente bem. Outro tom de rosa, tonalizado para o marrom foi o que eu usei na boca.
Ah, também encontrei uma bolsa carteira (na verdade são umas cinco, uma de cada cor) preta na mala. Coloquei nela meu querido antigo celular e meus dez dólares.
Saí. Tranquei a porta e desci as escadas. Foi quando o vi, de costas, usando um impecável smoking preto. Ele escutou meus passos e se virou para me olhar, com o habitual sorriso nos lábios.
- Vamos nos divertir muito essa noite. - ele disse, puxando a minha mão e lhe dando um beijo.
Eu deveria estar assustada, morrendo de medo, estava toda produzida para sair a noite em Paris com um cara que há três dias antes eu nunca havia imaginado que existisse nesse mundo, e ele me sequestrou no aeroporto e agora ficava me dando tudo o que uma garota de quinze anos cobiça ter no guarda-roupa e ainda sorri o tempo todo como se estivéssemos vivendo a situação mais natural do planeta. Eu deveria estar muito assustada, mas meu coração estava relativamente calmo. As batidas não eram regulares e comuns quanto o andar dos ponteiros do relógio, mas não eram velozes feito pedras que correm avassaladoras por uma montanha íngreme. Meu coração apenas estava curioso, ansioso para descobrir "aonde vamos e o que faremos essa noite", apenas isso.
Um Peugeot modelo 407 Prologue buzinou na porta do hotel. Ele me deu o braço, como um bom cavalheiro.
Entramos no carro. Era lindo. Expontaneamente, fiz uma pergunta indiscreta.
- Você é rico?
Ele deu uma risada graciosa antes de responder.
- Em que sentido?
Argh. Eu não queria dar papo pra ele. Queria demonstrar fúria e indignação, por ele ter me sequestrado, me trazido para a França e agora achar que tem minha tutela. Mas ele era agradável e eu não conseguia demonstrar raiva com tanta frequência.
- Financeiro.
Outra risada.
- Talvez possamos afirmar que eu tenha uma quantia razoável.
Razoável? Sei. Ele deveria ter ganhado na loteria. Não tinha nada a perder, então tinha que descobrir de onde ele tirava tanto dinheiro.
- Você ganhou na loteria, assaltou um banco, desviou verba de uma multinacional, encontrou um cartão de crédito sem limite na rua, herdou tudo de um bisavô milionário ou o quê?
- Você é bem curiosa para ter quinze anos. A fase do pergunta-pergunta geralmente só dura dos três ao cinco.
- E você adora desviar das respostas das perguntas que eu faço.
Um sorriso.
- Vou te contar a história completa. Mas a última opção é a mais provável. Você tem uma imaginação boa e é bem espertinha.
Fiz uma expressão que quase foi um sorriso, e em seguida virei-me para a janela. Estávamos sentados no banco de trás, e havia um motorista que estava dirigindo. A noite em Paris era mais linda que o dia.
Passaram-se uns trinta e cinco minutos, até que chegamos a um restaurante MUITO, muito chique. A placa dizia "Gérard Joulie". Não acredito nisso. Um restaurante cinco estrelas. Em Paris. Me belisquei para conferir: não era um sonho.
- Tem vários ambientes e é lindo. Você gosta de frutos do mar?
- S-s-s-sim... - estava embasbacada demais para dizer algo.
- Ótimo. Fiz reservas para nós dois em todos os ambientes, um em cada dia da semana. Hoje vamos em um que se chama "Le Bar de la Mer".
"O Bar do Oceano", traduzimos juntos. Aquele um ano de cursinho de francês realmente está sendo de boa utilidade. É claro que eu conheço o mínimo do básico do vocabulário francês, mas assim ele percebia que eu era esperta e que eu entendia quando ele falava em francês com as pessoas, e não ficava sem saber o que estava acontecendo.
Haviam dois seguranças na porta. Um deles segurava uma lista, com os nomes das pessoas das reservas.
- Pierre Vicent et Alícia.
O segurança conferiu os nomes, deu-nos uma comanda e nós entramos no lugar que deveria ser o mais elegante que eu iria em toda a minha vida. Ao caminhar, meu salto fazia "poc poc" pelo chão. A imagem do meu lindo scarpin de bico redondo rosa veio a minha mente, sem que eu olhasse para meus pés. Ele me deu o braço novamente. Desta vez, sorri.
Havia um detalhe no quarto que eu não disse: um espelho comprido na parte interna da porta do guarda-roupa.
Após vestir o vestido, o sobretudo, calçar o scarpin, arrumar meu cabelo (encontrei um babilize na mala! Fiz chapa e cachinhos nas pontas) e fazer a maquiagem, olhei-me no espelho comprido. Não era eu. Não poderia ser. Parecia uma mulher de uns dezenove ou vinte anos.
Minha sombra rosa clara cintilava por cima de meus olhos castanhos. O rímel, delineador e lápis pretos completavam a maquiagem dos olhos impecavelmente bem. Outro tom de rosa, tonalizado para o marrom foi o que eu usei na boca.
Ah, também encontrei uma bolsa carteira (na verdade são umas cinco, uma de cada cor) preta na mala. Coloquei nela meu querido antigo celular e meus dez dólares.
Saí. Tranquei a porta e desci as escadas. Foi quando o vi, de costas, usando um impecável smoking preto. Ele escutou meus passos e se virou para me olhar, com o habitual sorriso nos lábios.
- Vamos nos divertir muito essa noite. - ele disse, puxando a minha mão e lhe dando um beijo.
Eu deveria estar assustada, morrendo de medo, estava toda produzida para sair a noite em Paris com um cara que há três dias antes eu nunca havia imaginado que existisse nesse mundo, e ele me sequestrou no aeroporto e agora ficava me dando tudo o que uma garota de quinze anos cobiça ter no guarda-roupa e ainda sorri o tempo todo como se estivéssemos vivendo a situação mais natural do planeta. Eu deveria estar muito assustada, mas meu coração estava relativamente calmo. As batidas não eram regulares e comuns quanto o andar dos ponteiros do relógio, mas não eram velozes feito pedras que correm avassaladoras por uma montanha íngreme. Meu coração apenas estava curioso, ansioso para descobrir "aonde vamos e o que faremos essa noite", apenas isso.
Um Peugeot modelo 407 Prologue buzinou na porta do hotel. Ele me deu o braço, como um bom cavalheiro.
Entramos no carro. Era lindo. Expontaneamente, fiz uma pergunta indiscreta.
- Você é rico?
Ele deu uma risada graciosa antes de responder.
- Em que sentido?
Argh. Eu não queria dar papo pra ele. Queria demonstrar fúria e indignação, por ele ter me sequestrado, me trazido para a França e agora achar que tem minha tutela. Mas ele era agradável e eu não conseguia demonstrar raiva com tanta frequência.
- Financeiro.
Outra risada.
- Talvez possamos afirmar que eu tenha uma quantia razoável.
Razoável? Sei. Ele deveria ter ganhado na loteria. Não tinha nada a perder, então tinha que descobrir de onde ele tirava tanto dinheiro.
- Você ganhou na loteria, assaltou um banco, desviou verba de uma multinacional, encontrou um cartão de crédito sem limite na rua, herdou tudo de um bisavô milionário ou o quê?
- Você é bem curiosa para ter quinze anos. A fase do pergunta-pergunta geralmente só dura dos três ao cinco.
- E você adora desviar das respostas das perguntas que eu faço.
Um sorriso.
- Vou te contar a história completa. Mas a última opção é a mais provável. Você tem uma imaginação boa e é bem espertinha.
Fiz uma expressão que quase foi um sorriso, e em seguida virei-me para a janela. Estávamos sentados no banco de trás, e havia um motorista que estava dirigindo. A noite em Paris era mais linda que o dia.
Passaram-se uns trinta e cinco minutos, até que chegamos a um restaurante MUITO, muito chique. A placa dizia "Gérard Joulie". Não acredito nisso. Um restaurante cinco estrelas. Em Paris. Me belisquei para conferir: não era um sonho.
- Tem vários ambientes e é lindo. Você gosta de frutos do mar?
- S-s-s-sim... - estava embasbacada demais para dizer algo.
- Ótimo. Fiz reservas para nós dois em todos os ambientes, um em cada dia da semana. Hoje vamos em um que se chama "Le Bar de la Mer".
"O Bar do Oceano", traduzimos juntos. Aquele um ano de cursinho de francês realmente está sendo de boa utilidade. É claro que eu conheço o mínimo do básico do vocabulário francês, mas assim ele percebia que eu era esperta e que eu entendia quando ele falava em francês com as pessoas, e não ficava sem saber o que estava acontecendo.
Haviam dois seguranças na porta. Um deles segurava uma lista, com os nomes das pessoas das reservas.
- Pierre Vicent et Alícia.
O segurança conferiu os nomes, deu-nos uma comanda e nós entramos no lugar que deveria ser o mais elegante que eu iria em toda a minha vida. Ao caminhar, meu salto fazia "poc poc" pelo chão. A imagem do meu lindo scarpin de bico redondo rosa veio a minha mente, sem que eu olhasse para meus pés. Ele me deu o braço novamente. Desta vez, sorri.
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