quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A Pianista e o Colar - Capítulo IX

Ele abriu a porta e entrou.
Torci fervorosamente para que ele não sentisse o aroma de traição que pairava sobre o ar. Era assim que eu me sentia. Como se eu estivesse lhe traindo a confiança. Nem sequer me lembrava de que eu deveria agir sem remórcio, como uma refém vingativa naquele momento.
Deu uma volta pelo quarto e pegou a chave do carro. Em seguida saiu.
Aguardei pelo menos uns dez minutos antes de sair do meu seguro esconderijo. Não poderia me arriscar desta forma.
Quando saí, voltei ao piano. Meus dedos receosos tocaram cuidadosamente as teclas. E se fez música.
A melodia que tocava me fazia viajar. Me levava para longe... Tão distante... Distante de quaisquer problemas que tivessem habitado minha mente nos últimos dias. Eu me senti completamente leve. Queria que aquele momento durasse para sempre.
Toquei por uns minutos, mas então subitamente lembrei-me da real razão para eu estar ali, naquele quarto, naquele momento, e que eu não deveria demorar pois estava ali clandestinamente.
Revirei as coisas dele, as gavetas do armário, sempre em busca de uma pista, algo que me desse uma explicação para tudo isso.
Encontrei umas cartas, um mapa e uma caixinha. Coloquei tudo dentro da bolsa. Deveriam servir para alguma coisa.
Consegui chegar sã e salva em meu quarto. Me senti aliviada por isso.
Após me certificar de que a porta estava trancada e de que eu me encontrava em absoluta privacidade, comecei a investigar as coisas.
As cartas eram variadas. Algumas pareciam ser mais formais. Outras eram até perfumadas e enfeitadas com pequenos laços de fita. Mas não eram de um só remetente, claro.
De qualquer forma, inicialmente não tive coragem de ler nenhuma delas.
Quanto ao mapa, dei uma espiada. Era um mapa-mundi antigo, meio precário, com algumas rotas confusas traçadas entre os continentes. Um trajeto que para mim parecia estranho e sem nexo. Para mim.
Abri a caixinha, e descobri que era uma linda e rara caixinha de música. Ao invés da tradicional bailarina, havia na caixinha uma pianista, tocando um piano de diamante. Aquilo me fascinou e me intrigou, pois ao mesmo tempo em que eu me maravilhava com a rara caixinha de música rara, talvez a única daquele jeito no mundo, me intrigava a aparente obsessão dele por diamantes e pelo piano. Mas, por enquanto, eu preferia acreditar que tudo isso era inofensivo.
Fui me arrumar para descer pro jantar.

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