domingo, 29 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo IX

Mais algum tempo se passou até que a verdade, a verdade que eu recusava a aceitar, talvez por ela ser triste e ir contra a todos meus esperançosos sonhos, a verdade cruel, a cruel verdade mas ainda sim verdadeira, passou-se algum tempo até que eu a absorvesse.
Chegava ao fim de um dia sem vê-lo. A saudade fazia meus olhos lacrimejarem. Eu tentava não ser melodramática, mas há coisas que estão no sangue e que não são deixadas de lado assim tão fácil.
Como eu já disse antes, descrevi até, haviam alguns detalhes nele que eu sabia de cor. E sabia naturalmente. São coisas simples, mas eram o que sustentava sua lembrança em minha memória enquanto estávamos longe um do outro.
Olhei-me no espelho. "Ele não sabe seus detalhes. Eles não observa seus olhares. O coração dele não ameaça pular para fora do peito quando ele te vê. E ele não sonha com você todas as noites."Foi o que meu reflexo pareceu querer dizer.
Era como se finalmente ocorresse algo que há muito não ocorria: eu me encontrei. Isso mesmo. Resgatei minha alma do fundo de mim mesma, como se eu fosse um grande baú ou um poço muito fundo, e que a minha personalidade estivesse lá, vagando talvez.
Eu encontrei a mim mesma... foi uma emoção muito forte. Eu ainda era eu, ainda estava viva! Senti minha pulsação sanguínea frenética a percorrer minhas veias e tudo foi um grande choque.
Era como se eu estivesse vivendo um sonho, vivendo a vida dele, ou em torno dele, algo parecido. Tornara-se meu sol e estávamos em órbita. Mas isso mudara um pouco agora. Voltava a ser a protagonista de minha vida.
Mas, enquanto recuperava minha autoestima, recuperava meu eu, podia sentir ainda o amor vibrar em mim. E junto com ele, uma urgência em ser amada. Eu queria que tudo o que eu andei sentindo tivesse uma recompensa, e uma recompensa seria ter o amor dele na mesma proporção que o meu.
Havia a opção de virar a página, ou reescrevê-la. A segunda era perigosa, mas foi a minha escolha. É óbvio que eu não desistiria assim tão fácil...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo VIII

Descobri que meu coração é mais forte do que eu poderia imaginar. Ter um infarto na adolescência seria bastante interessante, e eu poderia até ficar famosa com isso. Felizmente ou infelizmente, isso não aconteceu.
Meu dia foi bastante comum. Mas, é claro que a parte em que estive com ele compensou o fato de meu dia ter sido apenas uma enfadonha e banal rotina.
Tudo bem, não foi tão entediante assim.
O fato de eu estar vendo por um ângulo pessimista as coisas é uma reles consequência da minha crise bipolar de humor - humor que não está dos melhores hoje - mas, como sempre isso não vai demorar tanto tempo assim para passar.
O vento está soprando lá fora. A janela do meu quarto insiste num batuque ritmado que por incrível que pareça não me irritou. Ainda.
Não sei o que falar, nem o que pensar portanto muito menos o que escrever.
A guerra interna em mim mesma me deixou exausta, e ainda não tive tempo para me recuperar.
Queria vê-lo nesse momento. Talvez conversar com ele me fizesse bem e melhorasse a minha crise, porque nem eu mesma estou me aguentando.
Minha mão direita brigou com a esquerda, porque a direita pegou o telefone para ligar para ele, e a esquerda não deixou. Não deixou porque já havia ligado e não havia necessidade de ligar outra vez. Não havia necessidade mas havia MUITA vontade. Eu queria tanto... Era quase insuportável me controlar.
São pouco mais que oito horas. Faltam dez horas para que o dia amanheça e eu acorde.
Ao mesmo tempo em que agora quero que o tempo passe, ao adormecer desejo que o tempo se congele um pouco, para que eu possa aproveitar meus sonhos um pouquinho... Já que eles não acontecem de verdade...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo VII

Dicionário Aurélio:
Coração: Órgão oco, muscular, sito na cavidade torácica, formado de duas aurículas e dois ventrículos, e que recebe o sangue e o bombeia mediante movimentos ritmados. A natureza ou a parte emocional do indivíduo.
Despedir: Fazer sair; despachar.
Desistir: Não prosseguir (num intento); renunciar.
Intenção: O que se deseja alcançar; vontade.
Involuntário: Não voluntário; independente da vontade.
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Definições. Se eu soubesse definir meus sentimentos tão bem quanto o dicionário define palavras, talvez fosse fácil expressar o que sinto. Se pudesse ao menos ter a clareza de um dicionário para discernir pensamentos de sentimentos, quem sabe a vida não seria um pouquinho menos complicada.
Meu pequeno e oco órgão, o mais forte e resistente músculo em meu corpo, tem se sentido tão frágil... Meus pensamentos perversos ficam a maltratá-lo, o pobrezinho... Em tudo que vejo e tudo que faço, lá estão eles, os safadinhos, sempre onipresentes, me atordoando...
Eu tentei despedi-los, despachá-los. Mandá-los para uma excursão espacial, de preferência em outra galáxia que não a Via Láctea. Mas almejar é algo diferente de alcançar...
Hoje declarei carta branca a eles. Minha alma foi intermediária entre a batalha travada em meu corpo: cabeça X coração. Eles desistiram da guerra, porém não houve um consenso muito claro.
De qualquer forma, o que quis dizer é que pensei em desistir. Embora isso não seja uma questão de escolha. Desistir parece uma ideia vaga e abstrata, ao relento, fraca e quase impossível.
Desistir daquilo que nas últimas semanas tem ocupado toda a sua mente, desistir daquilo que acelera seu oco órgão denominado coração, desistir de tudo, todos os sonhos, tudo. Isso soa muito triste para mim...
Mesmo que fosse necessário, mesmo sendo preciso, mesmo assim há em mim uma louca vontade de persistir... Deve ser essa irracionalidade que ocorre sem nossa intenção que as pessoas chamam de amor...

domingo, 22 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo VI

Adormeci muito tarde. As horas não faziam muito sentido para mim. Tinha uma vaga esperança de que não sonharia com ele, pois assim teria algumas horas de sossego. Ingenuidade minha, já que era muito previsível que ele estaria novamente em meus sonhos, assim como ocorria na maioria das noites.
Não me lembro muito bem do que eu sonhei, apenas algumas imagens vagas que não fazem muito sentido. O que sei é que acordei assustada, pois em meu sonho havia acontecido algo de mal a ele, e apesar de que eu não saiba direito o que foi, eu tinha consciência de que algo ocorrera e fiquei muito impressionada.
Abri os olhos, num sobressalto. Deparei-me com a escuridão do meu quarto. Não sabia se estava dormindo ou se havia acordado. Apalpei a cama desesperadamente procurando meu celular, para verificar as horas como de hábito.
Ao segurar o telefone, uma surpresa: havia uma mensagem recebida. Era dele. Não estava sonhando. Eu havia acordado. Estava tudo bem: com ele, comigo. Estava feliz por isso.
Mas não sei descrever a minha reação ao constatar que, definitivamente, ele era a minha inevitável e talvez feliz realidade, e não havia nada que eu pudesse fazer para fugir ou evitar isso...

sábado, 21 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo V

Nunca pensei que me encaixaria no termo "garota problema", mas nas últimas semanas ele pareceu se adequar perfeitamente a mim.
Não que eu procure encrenca. Apenas me envolvo em situações problemas e só descubro isso depois de envolvida.
Pensei que fosse ruim estar presa a um triângulo amoroso. Estava enganada, porque isso fica pior quando você descobre que não é apenas um triângulo, e sim que há mais pessoas envolvidas do que você pensa.
A questão é que você se sente culpada por algo que você fez mas na verdade você não fez nada; já que ninguém manda no coração.
E os problemas estavam apenas começando, embora eu me recusasse a aceitar isso.
Acontece que havia outro que gostava dela. E havia também, algo muito inesperado que me surpreendeu um pouco de certa forma, outra que gostava dele.
A situação que eu me encontrava era mais complicada do que meus cálculos apontavam.
Quando a outra é alguém que você praticamente não conhece, a "competição" é, podemos dizer, mais... Fácil. Você não se importa com quem está machucando... Pouco se importa com o que pensará... Mas se esta pessoa envolvida é alguém próximo de você, uma amiga? Aí o cenário muda radicalmente, porque você não pode agir da mesma maneira do que antes. E agir da mesma maneira que antes é quase incontrolável. Embora agora, com a alteração do cenário, isso seja errado pelos meus princípios.
Queria pensar em outra coisa. Em como o início de tudo, o início do que eu chamei de sonho, era bom. Lembrei das tardes juntos... Lembrei dos segredos trocados... Lembrei das risadas compartilhadas... Lembrei de quando éramos apenas amigos um para o outro, quando meu coração não ultrapassava isso. Quando não havia ninguém para se magoar a qualquer momento...
Empurrei esses pensamentos com uma mão abstrata. Eles não ajudariam em nada agora.
Tentei me concentrar em outra coisa. Os ponteiros do relógio em meu pulso mantiveram minha concentração por uns segundos. Até que tudo veio a tona novamente e eu pensei no que não queria pensar.
Não queria mas era inevitável. Tão inevitável quanto o balanço das ondas do mar, quanto o correr das àguas dos rios; quanto as chuvas de verão... Tão inevitável quanto meu amor por ele naquele momento. ..

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo IV

Todos os medos e receios anteriores pareceram tolice diante da situação. Nossa amizade continuou a mesma, invicta, após a tão temida conversa. Apesar de não parecer muito, eu sabia que de alguma forma as coisas mudaram, enquanto por outro lado não mudou nada. Mudaram de uma maneira interna, clandestina...
Ele nunca mais mencionou ela em nossas conversas. Isso me deixava feliz, mas eu ficava muito inquieta por não saber mais o que ele pensava sobre ela ou como andava o relacionamento deles. Passei a ter trabalho dobrado para descobrir isso, pois dependia do que as pessoas falavam e tinha de ser discreta para investigar, o que é muito complicado.
O que mais me deixou feliz é que hora nenhuma eu senti que ele estivesse distante de mim, já que isso era o que eu mais temia. Aconteceu que depois de um certo tempo eu já não sabia se me agradava ou não o fato de tudo ser como antes. Fiquei feliz pela atitude dele, que provou que era meu amigo de verdade; embora o fato dele não ter tomado nenhuma atitude demonstrasse que realmente éramos SÓ amigos. O que consequentemente, culminava com qualquer esperança que eu viesse a sentir.
Tive que cogitar mais possibilidades. E se eu viesse a esquecê-lo? E se eu não conseguisse? Eu me encontrava num beco sem saída, porque a única possibilidade que eu conseguia enxergar naquele momento era a de que mais cedo ou mais tarde, nós dois estaríamos juntos.
E para meu coração aflito, não custava nada esperar..

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo III

Eu não sabia o que fazer. Ele parecia estar feliz, e longe de mim tirar essa alegria dele. Pelo contrário. Eu só queria que fosse diferente, queria fazer parte dessa alegria, queria que ele estivesse feliz, mas com um detalhe - comigo -.
Continuei sendo sua amiga. Às vezes, deixava exposta para quem quisesse ver toda a verdade. Fosse pelas minhas ações, fosse pelas minhas palavras. Depois castigava-me em pensamentos por ter falado algo errado ou agido assim.
De qualquer forma, ele pareceu não notar. Tudo seguia naturalmente. quando estávamos juntos, ficava feliz por ele não ter descoberto. Mas, quando ela se aproximava dele, eu tinha uma louca vontade de puxá-lo pelo braço e impedir que ele se afastasse de mim e se aproximasse dela. Só então, entristecia-me o fato dele não saber a verdade. A inércia a qual estava presa angustiava-me: mesmo que uma força maior tentasse alterar meu estado (imóvel) eu não podia entrar em movimento.
Eu sabia que devia fazer algo. Mas tinha medo de por nossa amizade a perder, e isso eu não suportaria. Distanciar-me dele de alguma forma era completamente inimaginável.
Mas eu tinha que agir. Tomei a decisão de contar a ele toda a verdade. Diria tudo o que precisasse ser dito, tudo o que andava escondendo dele nas últimas semanas. Decidi arriscar tudo mesmo que fosse por nada; porque em mim habitava a certeza de que nada mudaria.

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo II

Ele se tornou pra mim, uma espécie de sol. Quando estava com ele havia luz em meus pensamentos, em minha alma, em mim.
Embora tudo estivesse tão lindo e tão perfeito, e o mistério e o segredo rodeasse-nos deixando nossa convivência ainda mais encantadora; já diziam os velhos e sábios profetas que nada é eterno.
Como toda boa, velha e sábia profecia, esta não demorou a acontecer.
Então de repente, em um dia aparentemente normal, eu vi um daqueles sorrisos intensos, intenso de orelha a orelha, despontar no rosto dele. E ele revelou estar gostando de alguém. - Alguém que óbviamente não era eu -.
O que senti naquele momento não foi algo muito descritível. O espaço ao meu redor era apenas algo insignificante que começou a insistir em rodar. Perdi a noção do tempo. Ou melhor: não havia mais tempo. Nem tempo, nem espaço. E consequentemente a gravidade se extinguira. O fato de tudo estar girando começou a me irritar, e eu passei a lutar desesperadamente para não perder o foco de seus olhos. Nunca foi tão difícil permanecer de pé.
Tudo isso foi muito rápido; um segundo talvez. Lembrei de que deveria reagir com alguma atitude normal. Esbocei um sorriso. Muito sutil, não estava com a mínima vontade de sorrir já que não havia a mínima graça, mas ainda sim não foi um sorriso amarelo, foi sincero.
Baixei o olhar para minha mão direita. Ele a segurava, com nossos dedos entrelaçados. Um gesto com significados tão diferentes um para o outro. Disse algumas palavras que fizeram algum sentido na conversa. Ainda não descobri de onde extraí a voz naquele momento. Dei uma desculpa qualquer e saí caminhando sozinha, fitando o horizonte sem prestar atenção, enquanto o chão parecia não existir sob meus pés.

Crônica: - Entre Amigos e Amores - Capítulo I

Conhecer alguém, se apaixonar, ter seu amor correspondido e um próspero namoro. Lindo, né? Mas a realidade não acontece sempre assim, dessa maneira. Não mesmo.
E se... Já cogitou hipóteses sobre as inúmeras coisas que podem ocorrer em sua vida? O que aconteceria se você se surpreendesse com seus próprios sentimentos? E se você se apaixonasse por seu melhor amigo?
São dúvidas demais e respostas de menos. E mesmo antes, antes de tudo, um dia eu cheguei a imaginar e a reproduzir mentalmente todas as possibilidades. Embora nunca tenha chegado a acreditar que viveria todas elas.
Imagine que tamanha foi a minha surpresa ao perceber o que meu coração insistia em esconder. Foi nesse impacto de emoções, nesse ninho de sentimentos confusos que eu recusava a discernir, exatamente nesse cenário que se iniciou uma espécie de sonho. Um sonho que era real.
Todos os dias eu o via. Passei a conhecer tudo sobre ele. Costumava observar o brilho de seus olhos verdes, que variava com a iluminação do ambiente enquanto conversávamos. Por instantes, pensava se os meus reluziam da mesma forma.
Às vezes, o mais espontâneo dos sorrisos inundava meus lábios. Eu parecia uma louca, rindo sem motivo, mas inicialmente a ideia de que ele não soubesse o que eu estava pensando a seu respeito era divertida.
Eu gostava de estar perto dele, me fazia bem. Era como se, quando ele me abraçasse, todo meu corpo se acalmasse, e eu não quisesse sair mais dali.
Os dias passavam e meu mundo parecia estar completo em absoluto. Foi quando tudo desabou.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Surpresa!

Os dias vão passando sem parar. As coisas vão se aderindo à rotina, adquirindo uma certa regularidade perigosa, ameaçada a se transformar na mais enfadonha das coisas: o cotidiano.
Que as coisas jamais se repitam diariamente. Até as coisas boas, até elas não devem cair na rotina. Aquilo que é bom é escasso, e o que é escasso não pode ser repetitivo, porque Deus me livre de enjoar das boas coisas.
Sou absolutamente imprevisível. Gosto de surpreender. Não só a todos como a mim mesma. Gosto de surpresas boas. Surpresas boas são sempre lembradas e aquilo que merece ser lembrado geralmente é vivido com intensidade, assim como eu vivo.
Dizem que quanto maior a altura, maior a queda. Isso pouco me importa. É claro que cautela é indispensável, mas deixar de fazer algo por medo de sofrer é pura ingenuidade.
Tudo que faço, faço com dedicação, com entrega, com intensidade. Talvez por isso as coisas que faço lembrem quem sou, coloco um pouco de mim mesma em todas elas.
Ou é inteiro ou não é. Já dizia Clarice, "Ou toca, ou não toca."

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Entre olhares e palavras...

Há quem diga que olhares dizem mais que palavras... e eu concordo plenamente.
As palavras tem o poder de omitir a verdade... Ironizar... Pronunciar sentenças falsas. Mentir.
Os olhos não mentem. São o espelho da alma. São a janela do coração. Eles tentam suicídio por nós, se afogando em lágrimas quando entristecemos...
Quando nos alegramos, os olhos brilham feito estrelas cadentes...
Quando estamos com raiva, eles se endurecem. Adquirem brilho estranho, luminosidade de labaredas incandescentes.
E quando nos apaixonamos... Ah, os olhos nos entregam. Nos denunciam, colocam nossos sentimentos na bandeja para quem for suficientemente esperto para ligar os pontos e perceber tudo. E se derretem... Se aquecem feito fogo. Como ocorre no coração.