quinta-feira, 21 de abril de 2011

E se... Eu pudesse voar?

Não que eu seja ingrata. Agradeço a Deus por poder andar, caminhar, correr...
Adoro a sensação de firmeza sob meus passos. É adorável sentir a areia sob os pés, a água, a terra, a grama... Mas, é inevitável imaginar como seria incrível voar.
Se pudesse voar, descobriria uma sensação oposta a firmeza, oposta a estabilidade do chão... Seria fácil compreender o que significa o abstrato, aquilo que existe mas que não é tocável ou facilmente descrito, seria fácil compreender isso se eu pudesse voar.
Ah... O que eu não faria se tivesse um par de asas...
Se pudesse voar, subiria até o pico de uma grande montanha e saltaria de lá. O vento iria soprar forte na direção do meu rosto, umas quinze vezes mais forte do que quando estou correndo. A gravidade puxaria-me veemente para o chão, e quando eu quisesse cessar a queda, precisaria apenas de bater minhas asas e me entregar a imensidão dos ares da atmosfera...
Se eu pudesse voar, daria uma volta completa pelo mundo sem gastar um centavo com passagens de avião. E seria ainda mais divertido. Seria apenas eu, o céu e minhas asas, sem quaisquer interferências mecânicas.
Subiria sem problema algum ao topo da Torre Eiffel. Daria um pulinho até a Torre de Piza. Regressaria ao meu país e repousaria sobre o ombro do Cristo Redentor...
Iria aonde quisesse... Percorreria a distância que fosse... Seguiria as estradas sem me preoucupar com placas, já que meu campo de visão seria muito mais amplo.
Quando estivesse entristecida, bateria asas e me isolaria na floresta. Quando contente, poderia rumar à uma praia e fazer festa.
Eu seria o ser mais livre do universo...
Ah... Se eu pudesse voar...



Carolina Vargas

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Pianista e O Colar - Capítulo XV FINAL

Certas coisas na vida não fazem sentido.
Não há nexo, não há coesão ou coerência... As coisas simples e subitamente vão acontecendo. Apenas isso.
Peguei um avião e rumei para um lugar óbvio demais para que me encontrassem: Brasil!
Fui para casa. Na verdade, para o sul.
Deu muito trabalho no começo pois eu era menor de idade, e vivia como se fosse adulta.
Terminei meus estudos, me esforcei a beça... Mas acabei me dedicando ao que eu sempre amei: ao piano.
Comecei tocando em bares, até ficar mais conhecida e passar a me apresentar frequentemente no teatro municipal.
Mas... Eu sempre fui seguida de perto pelo medo, pela incerteza, pelas sombras do passado, pela certeza de que meus dias estavam contados, meus dias estavam contados até que o cafajeste pelo qual me apaixonei aos quinze anos me encontrasse e terminasse com minha vida.
E era apenas outra noite com platéia e música quando...


FIM


(sugestão:ler o capítulo I outra vez para melhor compreender a história).

A Pianista e O Colar - Capítulo XIV

Segui-lo me deu um pouco de trabalho, mas não foi tão impossível quanto eu imaginei.
Ele andou alguns quarteirões e entrou em um prédio. Isso me deu trabalho pois tive de prestar atenção nos andares que o elevador parou e tive sorte de vê-lo descer do quarto andar, pela câmera de segurança. Subi em seguida.
Ele entrou em uma sala. Em seguida pareceu ter esquecido algo e saiu, deixando a porta entreaberta. Foi quando eu corri, entrei e me escondi.
Em seguida levei o maior susto da minha vida. Ele retornou a sala, com uma pessoa.
Minhas remotas hipóteses foram então confirmadas.
Eu não estava preparada para levar esse tipo de choque. Foi tudo demasiadamente assustador e repentino.
As órbitas de meus olhos agora estavam inundadas de lágrimas.
Vivo... Este tempo todo... E sem sequer me dizer nada... Eu não podia acreditar nisso. Mas, como poderia duvidar de algo que meus olhos confirmavam?
Ele segurava uma maleta. Os dois se sentaram.
- Como ela está? - Foi a primeira coisa que meu pai disse.
- Está bem. - Foi tudo que Pierre respondeu.
- Está na cidade? - perguntou papai.
Ele nem sequer sabia meu paradeiro então?
- Talvez. Não é seguro confirmar ou negar essa informação.
Papai inspirou e soltou o ar fortemente.
- Tenho uma surpresinha. Pode ser que você goste. - Papai falava com sarcasmo.
Ele abriu a maleta, e os olhos de Pierre se irradiaram de um brilho intenso e tenebroso. Senti os pêlos de minha nuca subirem gradativamente um a um.
- Con-conseguimos! - exaltou-se Pierre.
- Não foi fácil.
- Pouco importa. Agora ele é meu. Sua dívida com minha família está paga.
- Como ficará minha filha?
- Cuidarei dela. Vou estudá-la e quando ela tiver condição de se manter sozinha, nos separamos. Vou honrar a promessa que te fiz, fique calmo. O que importa é que eu tenho o colar. Seria capaz de matar alguém caso esse alguém me roubasse ele de novo.
Bastou. Já havia ouvido Baboseiras demais. Minha mente foi preenchida por uma ideia absolutamente insana. Conferi minha bolsa: 1000 euros. Algumas jóias. Era tudo o que eu tinha além da roupa do corpo.
Sai debaixo da mesa.
- Mataria até mesmo a mim? - meu olhar era desafiador, e fixo no dele.
Papai estava surpreso. Me deu um abraço.
- Alícia, me desculpa! Por tudo! Deixe-me lhe contar a verdade...
Eu esperava uma resposta.
- Qualquer um que se atrevesse a tomar o que é meu. - retribuiu Pierre.
Meu olhar saiu de Pierre para o de meu pai, o de Pierre um olhar duro, o de papai amargurado. Sem medir as consequências, peguei a maleta e saí correndo.
Corri e os dois vieram atrás de mim. Corri, em disparada, entrei no elevador e consegui fechar a porta antes que eles entrassem. Murmurei um "adeus papai".
Comecei a chorar mais desesperada.
Continuei correndo e tomei um táxi na porta do prédio. "From Airport." Torci para o táxi entender o que eu disse. Assim que ele acelerou observei papai e Pierre, na porta do prédio me procurando.
Não havia para onde ir.

A Pianista e O Colar - Capítulo XIII

Toc toc.
Pierre estava batendo a porta.
Eu precisava encará-lo como se nada tivesse acontecido ou melhor, como se nada tivesse sido lido.
Calcei a pantufa, coloquei o roupão de seda, fiz um rabo de cavalo improvisado e abri a porta.
- Bon jour, má chérie - disse ele no tom adorável, como de costume.
- Bon jour mon cher. Comme ces't su nuit?
- Tré bien, merci, madamouseille. Et vous? Rêve beaucoup choses?
- Não. Não me lembro de ter sonhado. - Encerrei a conversa em francês.
Ele me encarou um pouco e eu olhei para ele. Ele estava bem vestido, parecia que ia sair.
- Preciso resolver uns assuntos. Partimos para Madri em três dias.
Me assustei. Pensei que fôssemos hoje, aliás, iria arrumar tudo correndo.
- Pensei que fôssemos hoje.
Ele pensou um pouco e respondeu.
- Precisei adiar um pouco. Alguns assuntos pendentes. Nada que precise lhe preocupar querida. Desça, tome seu café tranquilamente e em seguida volte para o quarto e comece a fazer a mala. Talvez eu antecipe a data.
Assenti sutilmente.
Ele se despediu e saiu.
Assim que ele se virou de costas, fechei a porta. Demorei apenas dois minutos para estar completamente vestida. Coloquei alguns acessórios para evitar ser facilmente reconhecida: chapéu, cachecol, óculos escuros bem grandes...
Tranquei a porta e saí correndo. Iria segui-lo e descobrir toda a verdade acerca do que estava acontecendo. Ou meu nome não era Alícia Grings.

A Pianista e o Colar - Capítulo XII

As cartas eram atuais.
Penso até que haviam sido escritas há poucos dias.
Tratavam basicamente sobre o mesmo assunto: o diamante. Mas o que realmente me intrigou, foi que em todas elas haviam algo em "obs" do tipo: "cuide bem dela", "me mande notícias dela", "ela recebeu meu presente?" esse tipo de coisa.
Um forte solavanco em meu peito pareceu interromper o ritmo de minha respiração. Foi como se os fatos estivessem começando a clarear. As coisas de repente fizeram sentido. E eu não sei se queria que isso tivesse acontecido.
A letra me era muito familiar. Mas, não era possível que isso estivesse acontecendo, ou era?
A letra parecia com a letra do meu pai.
Mas, até onde eu sei, ele estava morto.
Aliás, era exatamente por ele estar morto que eu fui sequestrada por um estranho que se tornou meu pretendente e estava passeando fora de época na cidade mais romântica do mundo, Paris, com ele.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
E se... E SE meu pai estivesse vivo?
Onde estaria? Porque não fez contato comigo? Porque está deixando um estranho cuidar de mim? E mamãe? Estaria viva também? Novamente eu estava inundada de dúvidas. E não sei se estava feliz ou triste, simplesmente não sei como definir o que eu eu senti naquele momento.
Guardei as cartas e retornei ao meu quarto.